sábado, 18 de janeiro de 2020

AS HISTÓRIAS QUE RESIDEM NA GAVETA (18) por José Ruy

Continuamos a contar as peripécias de parte de um projeto que não chegou a ver a luz da edição, a História da Cruz Vermelha Internacional, numa edição mais completa, com meia centena de páginas. 

Portanto o «CICR» resolveu fazer, à frente da história mais desenvolvida, uma obra com menos páginas explicando as ações da Instituição, e que fosse de realização mais rápida, pelo problema da Instituição de me entregar atempadamente as traduções feitas pelos delegados da Cruz Vermelha Internacional. 
Esse livro maior seria realizado com mais calma, conforme a disponibilidade desses delegados em me fornecerem as traduções. 
A sua distribuição está a ser gratuita. 
Ao fim das quatro semanas que Jean-Jacques Surbeck combinara que eu ficasse a trabalhar no CICR, faltava poucochinho para acabarmos esta fase da história, e pediu-me para prolongar a estadia por mais uma semana. Concertei com a editora onde trabalhava em Portugal e consegui terminar a história.
Para simplificar, mostro um apanhado com algumas das línguas editadas. A Itália não esperou pela publicação impressa pelo CICR e editou na sua própria língua, com legendas feitas em computador. 
Mas, entretanto, tive uma surpresa: em dada altura, o diretor dos Festivais de BD na Roménia contactou o Luiz Beira, um dos coordenadores deste blogue, a dizer que havia um autor português pioneiro a publicar uma história em quadrinhos no seu país. E indicou o meu nome. Fiquei espantado, pois embora tivesse já nessa altura alguns títulos editados no estrangeiro, como a História de Macau em cantonense, não tinha conhecimento dessa publicação, que por certo seria uma edição «pirata». 
O Dodo Nitá enviou, então, um recorte comprovativo e verifiquei ser esta história da Cruz Vermelha, que na Roménia tinham traduzido e publicado por sua conta, sem intervenção do CICR.
Neste caso as legendas foram também escritas em computador. 
O Comité International de la Croix-Rouge fez uma tiragem de mais de meio milhão de cópias nas diversas línguas. Os ingleses pediram mais de uma remessa, pois essa língua abrange um público vasto. 
Entretanto, regressado a Portugal continuei a história mais desenvolvida. 
Fui realizando os esboços com muito acabamento, para não deixar dúvidas na apreciação do Comité, do CICR. 
Jean Jacques Surbeck continuava a fazer a tradução para francês, com base na versão em português que lhe enviava, e era a partir daí que as outras traduções iam sendo feitas. 
Só passaria a nankin depois dos espaços dos balões estarem devidamente preparados para as 10 línguas. Tenho toda a história esboçada, como mostro em baixo, incluindo as legendas.
Por essa altura houve o golpe de Estado na Pérsia, e o Aiatola Khomeini resolveu adoptar o Crescente Vermelho em vez do Leão Vermelho antes usado. Isso foi resolver a questão dos símbolos. Por exemplo, em tempo de guerra, as convenções entre os países proíbe bombardearem as barragens e os hospitais. Estes serão assinalados com visibilidade com uma Cruz Vermelha ou um Crescente Vermelho. Se esses símbolos se confundissem com os nacionais de cada país, deixava de servir de aviso aos aviadores beligerantes. 
As marcas visíveis nas páginas são de fita gomada que oxidou com os anos. 

O tempo foi passando, e a dificuldade em me enviarem as traduções foi-se agravando. O Jean-Jacques Surbeck foi colocado em Nova Iorque e deixou um colega a substitui-lo no acompanhamento do projeto, Charles Pierrat. 
Mas o verdadeiro entusiasta era o Surbeck e a partir de certa altura os envios começaram a ser muito espaçados até que se interromperam. 

Como a edição reduzida estava a ser um êxito, confirmado pelos frequentes pedidos de mais exemplares dos diversos países, ficou-se por aí.
Todo este trabalho foi-me pago, pois fizéramos um contrato escrito.
As Edições Europa-América chegaram a interessar-se na publicação em português mas, entretanto, essa possibilidade gorou-se.
Desde aí muita coisa mudou nas guerras no mundo e também na própria Instituição; se hoje tivesse de voltar a abordar o assunto, precisava de começar tudo do princípio.

No próximo artigo falarei de outra história que tenho nas mesmas condições, à espera de ser editada...

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