Tal como as anteriores, possuí uma história na sua origem que passo a contar.
No âmbito das minhas habituais idas às escolas e bibliotecas para mostrar como faço este trabalho, a pedido de professores e bibliotecários, fui convidado para fazer uma sessão na Escola Superior de Educação de Santarém. Acompanhou-me a «Tia Nita», que fora diretora do suplemento de «O Mosquito», «A Formiga».
A Tia Nita, Mariana Cardoso Lopes Viegas, mãe do ator Mário Viegas, fora professora nessa escola.
Um dos professores que assistiram à sessão fez-me um desafio, de criar uma BD sobre os Avieiros, essa gente sofrida oriunda de Vieira de Leiria, que sazonalmente durante o inverno quando o mar não permitia a pesca na sua zona, vinha até ao Rio Tejo, de águas mais mansas, apanhar o Sável, que conseguiam vender bem.
Aceitei a proposta, falei com o meu editor, já a «Âncora», e comecei a documentar-me e a preparar o argumento. Tinha de me afastar das obras «Avieiros» de Alves Redol e «Esteiros» de Soeiro Pereira Gomes, o que foi difícil.
Mas consegui uma história com enredo aliciante que explicava ao mesmo tempo a vida desses pescadores sazonais, envolvido num romance.
Além de documentação que tinha, adquiri livros sobre a construção das casas desses pescadores, que nas margens do Tejo viviam nos próprios barcos, chegando mais tarde a pouco e pouco a fixarem-se nessa região mais amena, construindo casas «pala fíticas». Fui ao terreno observar e desenhar diretamente do natural.
Um dos professores que assistiram à sessão fez-me um desafio, de criar uma BD sobre os Avieiros, essa gente sofrida oriunda de Vieira de Leiria, que sazonalmente durante o inverno quando o mar não permitia a pesca na sua zona, vinha até ao Rio Tejo, de águas mais mansas, apanhar o Sável, que conseguiam vender bem.
Aceitei a proposta, falei com o meu editor, já a «Âncora», e comecei a documentar-me e a preparar o argumento. Tinha de me afastar das obras «Avieiros» de Alves Redol e «Esteiros» de Soeiro Pereira Gomes, o que foi difícil.
Mas consegui uma história com enredo aliciante que explicava ao mesmo tempo a vida desses pescadores sazonais, envolvido num romance.
Além de documentação que tinha, adquiri livros sobre a construção das casas desses pescadores, que nas margens do Tejo viviam nos próprios barcos, chegando mais tarde a pouco e pouco a fixarem-se nessa região mais amena, construindo casas «pala fíticas». Fui ao terreno observar e desenhar diretamente do natural.
Gosto de fazer primeiro um esboço de toda a história, como tenho descrito, mas em dada altura organizaram em Santarém uma espécie de congresso sobre a recuperação dos Avieiros e quiseram apresentar o projeto da BD. Precisavam para isso de mostrar qualquer coisa. Então avancei com as primeiras imagens para serem apresentadas nessa ocasião.
O prazo de entrega estipulei em seis meses, que é o tempo que levo a executar uma história em Banda Desenhada. Entretanto iria primeiro entregar a história toda esboçada, com o texto dos balões, para ter a aprovação da organização, ou discutirmos pormenores, como faço em todos os meus trabalhos.
Ao mesmo tempo iriam verificar os elementos inseridos, e confirmar se estavam todos certos. Só depois disso entrava na fase da arte final, e aí já não podiam fazer qualquer alteração.
É o meu processo de trabalho.
Ao mesmo tempo iriam verificar os elementos inseridos, e confirmar se estavam todos certos. Só depois disso entrava na fase da arte final, e aí já não podiam fazer qualquer alteração.
É o meu processo de trabalho.
Durante uns meses, enquanto esboçava os desenhos, fui organizando a documentação que recebia constantemente por via do professor que se empenhava com dedicação à causa. Em dado momento apercebi-me que alguém até aí na sombra e que não tinha «mexido uma palha», como se costuma dizer, apareceu em destaque aproveitando o trabalho de alicerce conseguido com tanto esforço pelo tal professor, pondo-o de parte e a tomar as rédeas do assunto. Não me pareceu bem, mas o próprio disse que não me preocupasse, pois o que interessava era o projeto ir para diante. Atitude humilde e de muita dignidade.
Mas logo a seguir recebi um «ofício» da organização a pedir-me um prazo curtíssimo para entregar a história, e que iam fazer um concurso para autores e editores para depois apreciarem as propostas executadas, para escolherem a que mostrasse melhores condições.
Fiquei perplexo pois tinham ficado bem definidas, desde a primeira hora, as condições em que trabalho e nunca esteve em equação ser um concurso, pois não entro em competitividades desse género.
Quando lhes chamei a atenção disso começaram por não responder, fazendo «tábua rasa» (como diria Aristóteles a Platão) do assunto.
Enviei uma carta a pedir explicações concretas e dei um curto prazo, e se não tivesse resposta considerassem sem efeito o contrato que eles ainda não tinham assinado com o editor. Para mim, ainda considero que a palavra dada é um ponto de honra. Para quem a tem, claro.
Fiquei perplexo pois tinham ficado bem definidas, desde a primeira hora, as condições em que trabalho e nunca esteve em equação ser um concurso, pois não entro em competitividades desse género.
Quando lhes chamei a atenção disso começaram por não responder, fazendo «tábua rasa» (como diria Aristóteles a Platão) do assunto.
Enviei uma carta a pedir explicações concretas e dei um curto prazo, e se não tivesse resposta considerassem sem efeito o contrato que eles ainda não tinham assinado com o editor. Para mim, ainda considero que a palavra dada é um ponto de honra. Para quem a tem, claro.
E avisei que não podiam usar o argumento ou imagens já construídas, pois estavam registadas.
Mas não pedi indemnização pelo trabalho já feito. «Atirei-lhes à cara».
Não responderam, e passados mais de dez anos nada fizeram nesse sentido.
O professor passou por uma doença, mas quando nos cruzamos mostra ainda a esperança de ver concretizado este projeto.
Para mim, ficou a riqueza de conhecer bem toda essa vivencia de gente trabalhadora, tão nobre e sofrida.
Mais uma história que volta à gaveta...
No próximo artigo vou desempoeirar outro caso, o sétimo dos dez que se mantêm na penumbra.
Mas não pedi indemnização pelo trabalho já feito. «Atirei-lhes à cara».
Não responderam, e passados mais de dez anos nada fizeram nesse sentido.
O professor passou por uma doença, mas quando nos cruzamos mostra ainda a esperança de ver concretizado este projeto.
Para mim, ficou a riqueza de conhecer bem toda essa vivencia de gente trabalhadora, tão nobre e sofrida.
Mais uma história que volta à gaveta...
No próximo artigo vou desempoeirar outro caso, o sétimo dos dez que se mantêm na penumbra.
Realmente histórias que merecem ser contadas.
ResponderEliminarZé Soares
Todos nós somos contadores de histórias, só que as contamos de maneiras diferentes. É preciso ter uma boa história. Esta é uma delas.
ResponderEliminarObrigado pelo comentário
José Ruy
Grande história amigo José Ruy. Eles também são denominados os ciganos do rio
ResponderEliminarÉ verdade, caro amigo Luís Cruz Guerreiro, foi gente dorida que muito sofreu e trabalhou no duro. Foi com muito interesse que fiz toda a pesquisa e projetei esta narrativa. Por vezes temos de deixar para trás ideias e projetos.
ResponderEliminarBoa saúde e forte abraço.
José Ruy