segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

EVOCANDO (23)... FERNANDES SILVA

Fernandes Silva (1931-2010)
Faz hoje precisamente sete anos que Fernandes Silva, um bem notável e inesquecível desenhista da Banda Desenhada Portuguesa, nos deixou.
De seu nome completo António Fernandes da Silva, nasceu em Lisboa a 18 de Agosto de 1931 e faleceu a 30 de Janeiro de 2010. Por alguns poucos anos antes, com frequência o víamos (e conversávamos) pela livraria da Fnac-Chiado ou, aos sábados, pelas feiras dos livros e revistas, na Rua Anchieta, em Lisboa.
Conhecemo-nos em 1977... Nesse ano, eu (LB) era repórter e redactor do semanário “Branco e Negro”, onde também funcionava como cartunista o Victor Mesquita que, amigo e solidário, me deu os contactos que redundaram, com o rodar dos tempos, em belas e infindáveis amizades...
Nesse semanário, havia uma rubrica sob o tema “Profissões”. Numa das vezes que me calhou, deu-me uma veneta atrevida: escolhi o Banda Desenhista!... Tudo começava com um intróito sobre a profissão, seguindo-se um inquérito com gente da causa... O complicado é que, exceptuando o Mesquita, eu não conhecia mais nenhum dos outros... Mas, atrevi-me e desafiei-os a todos a irem à redação do “Branco e Negro”, onde aconteceriam apenas seis perguntas para um inquèrito comum... E foi a maravilhosa loucura!
Nesse artigo-reportagem-inquérito, para além de lógicamente o Victor Mesquita, os restantes foram: Fernando Bento, José Ruy, FERNANDES SILVA, Carlos Alberto, Artur Correia, José Garcês e Vitor Péon.
Foi uma glória para mim, a nível pessoal, e para a BD portuguesa em geral, pois o tema, finalmente, sacudiu e despertou tanta e tanta gente bedéfila que andava apática e senza fare niente pela causa.
E destes, o mais intrigante e emotivo é o caso Fernandes Silva, pois, com o tempo, vim a saber e a ser directamente desenganado, que ele era avesso a “grandes confusões”... Esta reportagem histórica aconteceu no semanário (hoje extinto) “Branco e Negro” n.º 6, a 18 de Janeiro de 1977... Ò tempo!...
Pois Fernandes Silva tinha uma personalidade peculiar; não gostava nada de altos convívios e/ou tertúlias e seguia as suas reservas (respeitáveis) a novos contactos e/ou abordagens... Mas preferia conversar com uma ou duas pessoas que estimasse, como foi o meu caso, pelo que o registo em recíproca estima e na plena saudade...
Estudou na famosa Escola António Arroio de Lisboa. Estreou-se como desenhista no “República dos Miúdos”, suplemento do quotidiano “República”, em 1950.
Colaborou depois, deslumbrando os bedéfilos, em “Diabrete”, “Cavaleiro Andante, Camarada” (2.ª fase) e “Flecha”.
"O Estranho Caso do Dr. Rapioca", in "Diabrete"
"Aventuras de um Trovador", in "Diabrete"

"O Outro Lado da Lua", in "Camarada" (2.ª fase)

"O Ponto - Detective Privado", in revista "Flecha"
Autorizou-me plenamente e com afinco (eu estava ainda à frente das actividades do saudoso GBS-Grupo Bedéfilo Sobredense), a reeditar dele tudo o que quisesse dos seus trabalhos, mas que eu teria de “descobrir” os mesmos, pois não tinha com ele nenhum original...
Embora com a compreensiva ausência física, Fernandes Silva foi homenageado no salão “SobredaBD / 2000”, tendo-lhe sido atribuído o Troféu Sobredão (que lhe foi enviado por correio e que ele recebeu e agradeceu).
Pela Holanda, a notável Lambiek Comiclopedia, bem o menciona e regista.
Que haja alguém com sensibilidade e lucidez - Governos e/ou editoras - que recupere com urgência a sua obra, que é curta mas valorosa, em gesto positivo e consciente pelo património da Cultura Portuguesa!
Até lá, amigo Fernandes Silva, está e estará sempre connosco!
LB


Primeira prancha de "Alice no País das Maravilhas", in "Cavaleiro Andante"

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

LUIZ BEIRA: O LEGADO A VISEU... E NÃO SÓ

Como já aqui referimos, Luiz Beira, vai ser alvo de uma merecida homenagem, amanhã, 28 de Janeiro, pelas 16:00 horas, na Biblioteca Municipal Dom Miguel da Silva, em Viseu.
Embora o Luiz se mostre avesso a tanto protagonismo e a tantos "holofotes" (especialmente no seu próprio blogue), é da mais elementar justiça dar-se destaque a este acontecimento.
Eu, enquanto colega de blogue e especialmente enquanto amigo há mais de duas décadas, não poderia deixar que esta notícia fosse ignorada, aqui no BDBD, simplesmente porque o protagonista é o Luiz Beira, um dos coordenadores deste blogue.
Por isso avancei - mais uma vez "à revelia", claro - para um post que pretende revelar um pouco do Luiz Beira, da sua obra e do seu legado a Viseu.
Ficarão assim, esclarecidos, os que o não conhecem, sobre as razões que levaram o Gicav e a Câmara Municipal de Viseu a promover esta bonita homenagem...


Biografia de Luiz Beira
(retirada, com a devida vénia, de um dos seus livros, "Teatro VI" - Edição Gicav -, com ligeira actualização da nossa responsabilidade)

Luiz Beira (pseudónimo de Armando Luiz Clemente de Bayão Marçal Corrêa) nasceu em Macequece (Moçambique) a 25 de Novembro de 1941. 
Fez serviço militar na Marinha, como Oficial Fuzileiro Naval, de 1963 a 1966.
Foi comissário de bordo na TAP (Portugal) e DETA (Moçambique).
Vivendo ora em Moçambique, ora em Portugal, fixou-se definitivamente no nosso país a partir de 1976.
Licenciado em História pela Faculdade de Letras de Lisboa, tem vários livros de Poesia e de Teatro editados, uns sob edição de autor e outros sob edição GICAV (Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu).
Alguns poemas seus foram publicados em castelhano na revista “Molínea” de Múrcia, com tradução de Juan Espallardo.
Luiz Beira
Como actor que também é, actuou diversas vezes na Rádio (em Portugal, Moçambique e Angola), no Cinema (em Moçambique), na Televisão (em Portugal) e no Teatro (em Portugal e Moçambique).
Nos anos 60, foi o fundador do Grupo  Cénico de Ferreira do Zêzere e, nos anos 70, co-fundador do Grupo de Teatro Reinaldo Ferreira (em Lourenço Marques).
Como jornalista, a sua actividade espraia-se pelos mais diversos periódicos de Moçambique e de Portugal.
Como amante da 9.ª Arte, foi o fundador do Grupo Bedéfilo Sobredense (GBS) na Vila da Sobreda (Concelho de Almada), onde criou as Jornadas Internacionais de Banda Desenhada” (ou Sobreda-BD, como ficaram conhecidas) que trouxeram ao nosso país alguns autores estrangeiros de renome (como Hermann, Danny, Didier Convard, Horácio Altuna, Jacques Martin, François Craenhals, entre outros) e homenagearam muitos dos chamados autores clássicos portugueses (como Fernando Bento, Vítor Péon, Artur Correia, Augusto Trigo, Baptista Mendes, José Ruy, José Garcês, José Pires, Eugénio Silva, entre outros).
Por proposta sua, a Vila da Sobreda deu os nomes de Fernando Bento e Vítor Péon a duas ruas (inauguradas no mesmo dia, a 11 de Maio de 2002). 
As exposições das Sobreda-BD fizeram digressões por muitos pontos do país, especialmente em Viseu e Moura, lançando nestas duas cidades as sementes que deram origem aos respectivos salões BD.
Foi co-fundador do fanzine “Shock” e, mais tarde, fundou e coordenou o “Almada BD Fanzine” e os “Cadernos Sobreda BD”.
Coordenou, também, rubricas de banda desenhada para o “Jornal de Almada (“Coluna da 9.ª Arte”), “Diário do Alentejo” (“Espaço BD”) e “Alentejo Popular” (“Através da Banda Desenhada”) e mantém colaboração assídua com a revista “Anim’Arte” (Viseu).
Em 2012, entrou no mundo da blogosfera de parceria com Carlos Rico, criando o BDBD – Blogue de Banda Desenhada, onde foram publicados, até ao momento, cerca de 500 posts...
Foi comissário de exposições de banda desenhada como “Centenário de Fernando Bento” (2010), “Alexandre, o Herculano” (2011), “Franco Caprioli – o desenhador poeta do mar” (2012), “Eça de Queiroz na Banda Desenhada” (2013), Centenário de Willy Vandersteen” (2013), “Centenário de Jijé” (2014), “Viriato na Banda Desenhada” (2015) e “O Infante D. Henrique na Banda Desenhada” (2016), quase todas co-produzidas entre Moura e Viseu.
A forte ligação que criou, ao longo de anos, fez com que doasse a Viseu (1991) e a Moura (1997) o seu acervo versando Banda Desenhada. A cidade beirã avançou, mesmo, como já referimos, para a criação de uma Bedeteca com o seu nome, anexa à Biblioteca Municipal daquela cidade.
Doou ao Museu do Brinquedo em Sintra brinquedos seus e dos seus progenitores.
Troféus de Homenagem: na Sobreda (1991, 1995 e 2002, quando recebeu o Troféu Sobredão Especial, atribuído pelo GBS), em Moura (1995, Troféu Balanito Especial) e em Viseu (1997, Troféu Anim’Arte, na 5.ª Gala da revista com o mesmo nome).
Em 2000 recebeu a medalha “Poetas e Escritores” atribuída pelo Centro Cultural Distrital de Viseu.
A 31 de Janeiro de 2002, a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) dedicou-lhe uma das sessões, “O Dramaturgo e a sua Obra”, com apresentação feita por Luís Francisco Rebello.
Ainda em 2002, recebeu a medalha “Cidade de Viseu” durante a inauguração da Bedeteca que tem o seu nome e que está integrada na Biblioteca Municipal de Viseu.
É administrado pela SPA e é um dos sócios fundadores do SIARTE (Sindicato das Artes e Espectáculo).
Actualmente, vive no Concelho do Seixal, com “Aton-Rá”, o mais recente dos 25 gatos (!) que tem adoptado ao longo da vida.
CR

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

TALENTOS DA NOSSA EUROPA (16): GERRIT DE JAGER (Holanda)

Gerrit de Jager
Nasceu em Amesterdão, a 2 de Setembro de 1954.
Sempre bem disposto e apontando-se na sua arte em fazer rir os bedéfilos, o seu humor arrisca-se mesmo por momentos de um terrível e livre sarcasmo. Um talento especial e digno de ser apreciado com francas gargalhadas e quentes aplausos.
Quase sempre argumentista de si próprio, De Jager, além de desenhista e cartunista, também esteve ligado à televisão holandesa.
Foi também publicado na Bélgica, na revista “Spirou” e com álbuns editados pela Dupuis. Uma das suas obras mais recentes, “Eva e Adão”, teve um álbum pelas Ed. Albin Michel, mas aqui, ele foi o argumentista, pois o grafismo pertence a Philippe Bercovici, “Et Dieu Créa Eve” (E Deus Criou Eva).

Da sua variada e hilariante obra, salientam-se as séries “A Família Doorzon”...
 

...e “Roel e o seu Zoológico” (Aristote et ses Potes, na versão franco-belga), como as de maior destaque de êxito e de popularidade.

Mas há ainda outras, como “Liefde en Geluk”...
“Zusje”...
“Puck”...
“Mik”...
“Sneek”, etc.

Antes de terminarmos esta justa “alembração” sobre este talento holandês da nossa Europa, a título de curiosidade, notificamos: nos anos 80/90, quando existiam os sempre lembrados salões “Sobreda-BD”, Gerrit De Jager foi convidado para uma das edições. Plenamente, aceitou o convite e, com toda a simpatia, a Embaixada da Holanda em Lisboa logo se prestou em arcar com as viagens.
Mas, porém, todavia, contudo... este talento foi “queimado”, quase na ocasião, pela sua função profissional na TV do seu país, pois devia deslocar-se então, cremos que para um território asiático. Ficou a tristeza mútua... Paciência!
LB

sábado, 21 de janeiro de 2017

A ILHA DO CORVO QUE VENCEU OS PIRATAS (9)

Em setembro de 2016 terminei a primeira fase da série de artigos que tenho vindo a apresentar sobre a Ilha do Corvo, neste prestigiado Blogue «BDBD», com o texto que repito em baixo:

"Vão longos estes artigos, e a história vai caminhando em direção ao final. Faltam-me desenhar em definitivo pouquíssimas páginas, e agora a parte mais interessante será vermos as corvinas e os corvinos com o livro já impresso nas mãos, onde descrevo uma das histórias da sua Ilha, a que conta como os seus antepassados conseguiram sem armas vencer os piratas, apenas com pedras. É o registo de um acto heroico que as novas gerações precisam de saber e memorizar.

Voltamos ao contacto quando isso acontecer, que presumo seja no início do próximo ano de 2017.
Não deixarei de vos informar quando houver algo importante para assinalar.
Prometo.
Entretanto podem ficar a conjeturar como será o fim desta aventura.
Um pouco mais de paciência".

E como o prometido é devido, aqui estou a dar mais notícias deste trabalho aos fiéis leitores.
Tenho neste momento todas as pranchas desenhadas em definitivo e só não mostro as últimas porque é de ética não desvendar os finais de uma história antes da sua publicação. Mas podem observar mais algumas páginas para a frente das que já viram antes. 
Terminado o desenho a preto e branco, iniciei o trabalho de dar a cor, que, como já vos expliquei, faço presentemente através do Photoshop, com uma paleta criada por mim, muito semelhante à das aguarelas que utizava antes.
Sou de opinião de que a cor deve complementar o desenho a traço, sem no entanto abafar o original a tinta-da-china, por isso continuo a utilizar cores «pastel», suaves e transparentes. O negro dos contornos tem de ficar bem visível.
O colorido funciona assim apenas como um apoio, ajudando principalmente a desligar planos, e para isso utilizo a técnica de envolver por vezes partes inteiras do desenho em silhueta, numa mancha para definir rapidamente as distâncias em perspetiva. Também uso este processo para destacar qualquer pormenor que se encontre no meio da composição, e chamar a atenção do leitor.
Mas neste artigo pretendo mostrar principalmente a evolução da criação da capa, pois esta é a montra de qualquer livro, e é por essa via que o leitor ou as pessoas que passam pela livraria se apercebem de uma nova edição e do que trata.
O título ficara já definido com o Coordenador do Ecomuseu do Corvo, Eduardo Guimarães. Programei que este precisava de ter em destaque «A Ilha do Corvo», pois quando alguém fizer uma busca sobre essa Ilha, o nome deste livro aparece também.
No subtítulo um toque de mistério, que pudesse despertar nos jovens, corvinos ou não, a imaginação de uma aventura, afinal o verdadeiro objetivo desta Banda Desenhada. E como trata da defesa heróica dos ilhéus, do ataque dos piratas em 1632, acrescentei «Que Venceu os Piratas».
Temos portanto os ingredientes para despoletar o interesse em abrir o livro, folheá-lo e ver o seu conteúdo.
Posto isto, elaborei uma composição com os elementos referentes à história, a reação dos ilhéus face ao ataque dos turcos, e como homenagem aos corvinos atuais que tão generosamente se prestaram a servirem-me de modelo para as pesonagens.
Criei então como que um colar de «pérolas humanas» com os rostos das principais figuras da narrativa.
Fiz primeiro um esboço linear, à semelhança do que fizera para toda a história. A cena do combate também foi bem ponderada por mim, pois com a conjuntura mundial atual, não podia arriscar criar algum mal-entendido com esta narrativa gráfica. Claro que o interior do livro define bem que se trata de um episódio histórico do século XVII, mas quem vê apenas a capa, de passagem, pode não se aperceber desse pormenor. Não podia expor a Ilha do Corvo a essa apressada crítica.
Assim exemplifiquei a defesa dos ilhéus atirando pedras ao inimigo, sugerido pelas naus dispostas no horizonte e das barcaças que desembarcam os atacantes.
Chegado a esta composição que considerei harmoniosa, passei à fase seguinte, com um esboço mais definido.
Como sempre gostei de trocar impressões com as pessoas interessadas nas obras que realizo, enviei para o Eco Museu do Corvo, para apreciação do seu Coordenador Eduardo Guimarães.
Este observou com cuidado o rascunho e sugeriu que incluísse a imagem da Santa, que o vigário levara em procissão sobre a falésia, para proteção dos corvinos que estavam sob fogo dos piratas.
Como no geral a capa estava aprovada nos outros elementos, avancei para o desenho definitivo incluindo o pormenor da presença da Santa dos milagres, que coloquei no centro da composição.
Também o título já definido, com a cor sugerida embora ainda sem o colorido final.
Claro que enviei também ao meu editor para o seu conselho e apreciação que muito prezo.
Resolvi completar com a cor o conjunto da proposta de capa, para que esta fosse apresentada na Ilha do Corvo e apreciada e criticada pelos corvinos e corvinas.
A emoldurar o título, nuvens ameaçadoras de tempestade e no meio um halo como que o sol tentando romper, filtrado por um nevoeiro denso.
Nas figuras do colar humano, que correspondem aos rostos das corvinas e corvinos que posaram para mim e entram na narrativa, dei um toque de cor neutra, apenas para criar luzes de uma claridade difusa.
O céu vai aclarando na madrugada em que os piratas surgiram à vista da Ilha.
O tom escuro dos fatos dos defensores, mistura-se com o sóbrio ambiente da paisagem onde se vê a falésia abrupta sobre o mar.
Parece-me ter criado o dramatismo que está presente no episódio que marcou os habitantes da Ilha do Corvo em 1632.
No Corvo, o Eduardo Guimarães pôs a capa acabada à consideração da população, bem como do Presidente da Câmara, e deu-me já a resposta positiva dessa consulta. Caso houvesse alguma sugestão, teria todo o gosto em faze-la.
Em princípio será esta a cobertura do livro a sair neste trimestre, como está previsto.
Falta-me colorir apenas nove pranchas, o que terminarei dentro em muito pouco tempo.
Voltaremos ao contacto, logo que tenha mais novidades para vos dar.
Até lá desejo-vos boa leitura de Histórias em Quadrinhos, principalmente portuguesa.
José Ruy
Janeiro 2017

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

BREVES (37)


VIVA HERMANN!
Hermann e o seu incontestável talento estão em plena glória!
Não só é o autor do cartaz do Festival de Angoulême (a realizar entre 26 e 29 de Janeiro), como é o Presidente da edição deste ano do dito Festival, onde apresentará também as primeiras pranchas da sua nova série, “Duke”, com argumento de seu filho Yves H.
A revista “Casemate” #99 (Janeiro) inclui um suplemento especial que comporta entrevistas com Hermann e com Yvesbem como, também em jeito de entrevista, os depoimentos de Enrico Marini e de François Boucq, sobre Hermann e a sua obra.
Um exemplar a não perder!


JOÃO PAULO COTRIM NA BEDETECA DA AMADORA
É já amanhã, 19 de Janeiro, que na Bedeteca da Amadora, pelas 19:00 horas, inaugura "Banda Escrita: João Paulo Cotrim", uma exposição em torno do argumentista, 
que faz parte do ciclo dedicado a argumentistas de BD.
A mostra ficará patente até 4 de Março, no seguinte horário:
De terça a sábado, das 10:00 às 18:00 h.



  
"HORIZONTE AZUL-TRANQUILO"
Entretanto, no dia 14 inaugurou, também na Bedeteca da Amadora, a exposição "Horizonte Azul-Tranquilo", esta dedicada a uma retrospectiva da obra de Fernando Relvas. Estará patente até 29 de Abril, no mesmo horário.





2016, UM ANO AMARGO...
Dizem as “lendas” que os anos bissextos são muito aziagos. E o 2016 não fugiu a esse dito. Pelo campo das Artes, foi mesmo um ver se te avias!... Por exemplo, da Cena Portuguesa (Teatro, Cinema,Tv e Canção), finaram-se doze valores...
Pela Banda Desenhada, apurámos pelo menos o falecimento de dezasseis autores, cujos nomes aqui deixamos como forma de singela homenagem:
Em Abril: René Hausman (belga) e Alberto Dose (argentino)
Em Maio: Boris Cleet (francês), Julio Berríos (chileno) e Darwyn Cooke (norte-americano)
Em Julho: Geneviève Castrée (canadiana), Jack Davis (norte-americano), Carlos Nine (argentino) e Richard Thompson (norte-americano)
Em Setembro: Jukka Murtosaari (finlândes) e Ted Benoît (francês)
Em Outubro: Steve Dillon (inglês)
Em Novembro: Carlos Alberto Santos (português) e Marc Sleen (belga)
Em Dezembro: Gotlib (francês) e Don "Duck" Edwing (norte-americano)
Talvez nos tenha escapado mais algum mas mesmo assim, e para tristeza geral, uma grande razia!...

sábado, 14 de janeiro de 2017

VISEU HOMENAGEIA LUIZ BEIRA!

No próximo dia 28 de Janeiro, sábado, pelas 16:00 horas, a Câmara Municipal de Viseu (CMV) e o Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu (Gicav) promoverão uma justíssima homenagem a Luiz Beira - meu ilustre amigo e colega de blogue -, integrada nas Comemorações do 15.º Aniversário da Biblioteca Municipal Dom Miguel da Silva.
Estas comemorações visam homenagear algumas das figuras que mais se notabilizaram neste período de vida da Biblioteca e o nome de Luiz Beira - o primeiro de um conjunto de doze - vem a propósito uma vez que, como é sabido, doou a Viseu grande parte do seu acervo de banda desenhada com a finalidade de aí ser fundada uma Bedeteca, o que viria oficialmente a acontecer em 31 de Maio de 2002.
Na Bedeteca Luiz Beira (que está acoplada à Biblioteca Municipal Dom Miguel da Silva) podem ser consultados milhares de documentos como sejam álbuns, revistas e fanzines de banda desenhada (alguns dos quais de incontestável raridade e valor histórico), bem como livros de Teatro, Poesia e outros temas.
Mas Luiz Beira está intimamente ligado à cidade de Viriato, não só através da Bedeteca como do próprio salão de banda desenhada, cuja génese em muito se deve às digressões que, inicialmente, as exposições das Jornadas BD da Sobreda (também elas uma criação de Luiz Beira), faziam a Viseu.
E não poderíamos, obviamente, esquecer a longa e assídua colaboração com a revista "Anim'Arte" (que ainda mantém) ou a publicação de todas as peças de Teatro que o Gicav lhe editou, em seis volumes, há alguns anos.
É, pois, por tudo isto e com inteira justiça que a CMV e o Gicav se preparam para homenagear este amante das Artes, inaugurando uma exposição que permanecerá patente ao público até dia 22 de Abril.
Quem puder deslocar-se a Viseu, no dia 28, e assistir à homenagem pública, será muito bem-vindo pois o Luiz merece, nesse dia tão especial para ele, estar verdadeiramente entre amigos (e são muitos os que a Banda Desenhada, o Teatro, o Cinema e a Televisão lhe têm trazido ao longo dos anos...). Fica o convite feito.
Eu, por mim, lá estarei para lhe dar um fraternal abraço, participar na festa e fazer a merecida reportagem para publicar, dentro de dias, no nosso blogue... 
CR


quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

SÉRIES DE TIRAS BD (8) - BARTOON

"Bartoon" é a terceira série de tiras, escrita e desenhada por Luís Afonso, de que falamos nesta rubrica do BDBD.  Não será caso para grande admiração uma vez que as séries produzidas pelo cartunista alentejano são, reconhecidamente, de excelente nível.
O "Bartoon" não foge a esta regra e há, até, quem a considere como a melhor série que Luís Afonso criou até hoje.
Surgiu em 1993 (vai para 24 anos!), quando Luís Afonso foi convidado pelo jornal "Público" a desenvolver um cartune para substituir o espaço que Sam - outro cartunista português de nomeada - deixara vago, após falecer.
Por essa altura, Luís Afonso era responsável no jornal "A Bola" pela série "Barba e Cabelo" (da qual já aqui falámos), que tratava de assuntos futebolísticos, e na "Grande Reportagem" dava vida a "Lopes, Escritor Pós-Moderno". Ora o que o "Público" pedia era um cartune com temas políticos e sociais e essa era uma área em que Luís Afonso queria trabalhar com mais regularidade.
Assim, rapidamente avançou para a concepção duma série, num cenário onde pudesse colocar vários personagens à conversa, sobre assuntos políticos, ambientais, económicos, sociais, etc...
Pensou de imediato num bar (levemente inspirado num bar de jornalistas que havia perto do Bairro Alto), ambiente mais que propício para a necessária "rotação" de personagens, sendo o barman o único personagem fixo da série. É ele, normalmente, quem remata o tema tratado, com uma tirada a propósito, que deixa os leitores do "Público" de sorriso nos lábios. 
Sempre com quatro vinhetas, o "Bartoon" começou por ser publicado em formato quadrado mas passou, depois, ao formato de tira, que ainda mantém. É desta última fase que apresentamos alguns exemplos.
CR









sábado, 7 de janeiro de 2017

NOVIDADES EDITORIAIS (111)

PEREIRA PRÉTEND - Edição Sarbacane. Autor: Pierre-Henry Gomont, segundo o romance do ítalo-português Antonio Tabucchi.
Este grande senhor das Letras, nasceu em Itália, na região de Pisa, a 24 de Setembro de 1943. Esteve muito ligado à Universidade de Siena, mas apaixonou-se por Portugal, pela Literatura Portuguesa, casou com uma portuguesa e em Lisboa faleceu a 25 de Março de 2012.
Se sempre amou a sua Itália natal, jamais deixou também de amar Portugal que adoptou e o adoptou. Grazie, signore Tabucchi!
Sua obra de encanto: “Sostiene Pereira”, em português “Afirma Pereira”, agora em Banda Desenhada pela editora francófona Sarbacane, “Pereira Prétend”. Um luxo e uma honra!
Esta mesma obra deu lugar a um filme em 1995, realizado por Roberto Faenza, rodado sobretudo em Lisboa, com actores portugueses (Joaquim de Almeida, Teresa Madruga, Nicolau Breyner, etc.), franceses e, logicamente, italianos, como o saudoso e brilhante Marcello Mastroiani no personagem principal. Outro luxo!
Agora em Banda Desenhada, uma obra bem conseguida pelo talentoso francês Pierre-Henry Gomont, que visitou Portugal em 2015, para se documentar devidamente. E que belas são as ilustrações!...
“Pereira Prétend”, é obra de absoluta e obrigatória leitura.

A HISTÓRIA DE SILVES EM BD - Edição da Câmara Municipal de Silves. Autor: José Garcês.
Esta obra, bem urdida por mestre José Garcês, teve a sua “odisseia”... Há muito programada por uns e por outros, finalmente... chegou!
Convém conhecê-la, no mínimo pelos silvenses, pois a estes é especialmente dedicada. E vale a pena!
Uma pequena correcção: na página 34, na sexta vinheta, a rainha é D. Maria II e não a sua bisavó, D. Maria I. De acordo?
Outra questão, impossível de se deixar passar em branco: na biografia do autor, há um “estranho lapso”. Não se menciona que José Garcês  também foi homenageado na “Sobreda-BD /1987” e no “Moura BD 1995”. Aqui fica um devido e correcto registo!...
José Garcês, como qualquer outro dos nossos grandes e incontestáveis desenhistas, é tão honrado sob as luzes da admiração e das estima de grandes festas da BD, neste caso, da Amadora, Lisboa ou Viseu e até na italiana Luca, como o é, também, na sincera estima das humildes Sobreda e Moura.
E... estamos conversados!


LA POMME DE DISCORDE - Edição Glénat. Argumento de Clotilde Bruneau, arte de Pierre Taranzano, segundo a ideia de Luc Ferry.
“La Sagesse de Mythes” é uma série de portentosa força cultural (que vai ter vários tomos, consoante os temas), por forte e consciente aposta editorial da famosa Glénat. Pois... parabéns Glénat!
Tomara nós, termos em Portugal, uma editora assim tão apostada na força da Cultura e esquecer de vez em quando o furor pela caixa facturadora!...
“La Pomme de Discorde” é o primeiro tomo da trilogia que, desde já se imagina de qualidade total, “L’Illiade”, segundo Homero. Tem absoluta qualidade pela equipa que a elabora com um aplaudível apoio consciente de toda a engrenagem editorial e inteligente que por aqui se faz funcionar.
Bravo, Glénat!

O TESTAMENTO DE WILLIAM S. - Edição Asa. Argumento de Yves Sente, arte de André Juillard, cores de Madeleine Demille e tradução de Sara Moreira.
Pois, as aventuras de Blake Mortimer, são e serão sempre bem-vindas, sobretudo quando há um belo capricho construtivo de quem elabora e continua a elaborar esta série-BD de honra.
E este belo tomo, “O Testamento de William S.”, com todo o seu misterioso e intrigante título, não nos deixa nem apagados nem indiferentes.
LB

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

EVOCANDO (22)... TIBET

Tibet (1931-2010)
Ele faleceu há sete anos, precisamente a 3 de Janeiro de 2010. Nasceu em França, em Marselha, a 29 de Outubro de 1931, vindo a falecer em Roquebrune-sur-Argens (França). Embora desde muito jovem residente com a família  na Bélgica, nunca deixou a sua nacionalidade francesa.
Veio pela primeira e única vez a Portugal para ser homenageado ao vivo, no salão “Sobreda-BD / 1995”, onde recebeu o Troféu Sobredão.
Tem uma obra imensa de Banda Desenhada, tanto na linha humorística (a sua favorita) como na realista.
De seu nome próprio Gilbert Gascard, ele é o inesquecível TIBET.
Gigante no seu traço claro, também foi um extraordinário caricaturista e cartunista. Como caricaturista, tem o seu álbum “La Tibetière”, abordando figuras de famosos da Política, das Artes e do Desporto, como Charlie Chaplin, Louis de Funès e até, uma auto-caricatura.
 Charlie Chaplin e Louis de Funès caricaturados por Tibet

Quando veio a Portugal, em sua homenagem, o Grupo Bedéfilo Sobredense (GBS), editou-lhe  um mini-álbum extra da série-colecção “Cadernos Sobreda-BD”, onde se reúne uma breve biografia e se reedita a aventura em média metragem de Ric Hochet, “O Traidor Contrafeito”.

Da sua admirável obra, salientam-se as séries “Ric Hochet (94 álbuns)...

“Chick Bill” (60 álbuns)...
 

...e “Le Club Peur-de-Rien” (19 álbuns).

Mas da sua extensa bibliografia, devem-se registar ainda as efémeras séries, “Aldo Remy” (3 álbuns)...

...e “Dave O’Flynn” (2 álbuns).
Pela linha realista, o seu ponto alto recai na série”Ric Hochet”, com argumentos de André-Paul Duchâteau. Felizmente, esta série continua, mas isso agora, é outra aventura...
Em tempos que já lá vão, pelo Cinema, realizou-se a única (até hoje) aventura de Ric Hochet . Foi em 1968, com produção e realização de Raymond Leblanc, a média metragem “Signé Camélion”, com o malogrado actor belga Daniel Vigo no protagonista. 
Este filme “perdeu-se”!... Até o próprio Tibet, quando esteve na Sobreda, nos confessou que não tinha sequer uma cópia deste filme!... Acontece!
Nesse filme, ele próprio e o argumentista Duchâteau participam como dois pândegos polícias...
Até lá... VIVA TIBET!
LB
Ric Hochet e o actor Daniel Vigo que lhe deu corpo no cinema