sábado, 12 de agosto de 2017

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS - ARTE COM MUITA OFICINA (3)

Por: José Ruy


Milton Caniff desenhando Steve Canyon
a partir de modelo vivo
Em dezembro de 1946 Milton Caniff deixou de desenhar «Terry» e criou uma nova personagem, «Steve Canyon», um piloto civil que possuía uma pequena companhia de transporte de cargas. Este herói durante a Guerra da Coreia alistou-se na Força Aérea, mantendo-se assim até ao fim da sua publicação.
Debruce-mo-nos agora no que falei antes, sobre as tais leis a que a maioria dos autores tinha de obedecer.
As Agências para onde os autores trabalhavam, chamadas de «Sindicatos», distribuíam simultaneamente para jornais de todo o país e até para o estrangeiro as mesmas histórias em continuação.
Quando tive acesso a jornais de várias cidades dos Estados Unidos da América, observei que cada um publicava a mesma história em diversos formatos e com diferente disposição das vinhetas, sem mexerem nos enquadramentos originais.
Cheguei à conclusão que, para que cada jornal pudesse dispor de maneira diferente o mesmo original, este tinha de obedecer a uma estrutura matemática. Portanto os autores estavam condicionados a um esquema e não tinham liberdade para organizar as vinhetas das suas histórias como muito bem entendessem. Era um trabalho de oficina submetido a grande disciplina.
Vou exemplificar, mostrando algumas páginas.
Comecemos pelo Milton Caniff com a sua série «Steve Canyon», já que temos estado a falar dele.

Veja-se, nas imagens abaixo, três exemplos de arrumações diferentes da mesma prancha. Para que isso fosse possível, sem cortar desenhos, o autor tinha de fazer as vinhetas com a mesma largura, e só podia fazer uma dupla no fim da página. Assim desta maneira eram permitidas as diferentes hipóteses.

No exemplo a seguir, o autor não utilizou vinhetas duplas ou triplas, a não ser na abertura com o título, pois esta nunca seria dividida.

Verifiquei também que em outras alturas da publicação, no mesmo jornal e no seguimento dos mesmos episódios, as vinhetas apresentavam-se retangulares e não quadradas. No entanto nada indicia que as quadradas tenham sido cortadas para se encaixarem no espaço destinado pelo jornal para a publicação. Possivelmente terá sido o próprio Caniff a fazer essa operação. Mas o esquema de paginação mantém-se.

Para além dos jornais, outras revistas de pequeno formato, publicavam episódios completos.
Nas imagens seguintes, um exemplo de três páginas duma revista mexicana de 1954, no formato de 25,5 cm por 18 cm, com 34 páginas. A seguir à capa preenchida por um desenho inteiro, tem uma página equivalente ao «rosto» de um livro, e a história começa na página 3, terminando na contracapa do volume.
(continua)

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