terça-feira, 14 de novembro de 2017

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS - ARTE COM MUITA OFICINA (7)

Por: José Ruy

Continuamos com o estudo sobre as pranchas de Harold Foster que eram publicadas em jornais e revistas que não respeitavam o formato original.

Portanto, não sendo as páginas desenhadas por Harold Foster concebidas para sofrerem alteração na disposição das vinhetas, verifiquei um caso, estranho para mim.
Qual teria sido então a razão desta página ser concebida com a segunda vinheta dividida, sendo ela inteira, como se fosse para a encaixar da maneira hipotética (e da minha responsabilidade) que apresento?
Como se vê, não faz sentido essa hipótese, pois se por um acaso a prancha fosse reorganizada ao alto, ficaria no final um espaço em branco com a falha de uma vinheta. Porque foi esta segunda vinheta cortada pelo meio, em vez de ser mantida inteira? Para mim tem sido um mistério.
Mas esta estrutura de página inteira prejudicou gravemente a série quando, fora dos Estados Unidos, muitas revistas publicaram o «Prince Valiant» em outros formatos. Para não reduzirem tanto toda a página, separaram as vinhetas e fizeram uma montagem de corte à tesoura que mostro:
Trata-se de uma publicação da «Editorial Lord Cochrana» do Rio de Janeiro, à volta dos anos 50 do século XX. Como as vinhetas não se prestavam a uma adaptação ao formato, 25,5 cm por 18 cm, ou não a souberam fazer, cometeram um dos maiores atentados que conheço à obra de Foster. Cortaram figuras a meio e, em cenas que o desenhador preparara a composição de modo a chamar a atenção para um determinado pormenor, esse importante detalhe foi simplesmente amputado. Chegaram ao ponto de acrescentar «rabiscos» ao desenho do autor, sem necessidade, como assinalo na reprodução junta.
Um verdadeiro crime que escapou às malhas das leis da «King Features Syndicate», sempre tão atenta e exigente. Incompreensível. Condenável!
(continua)

2 comentários:

  1. Esclarecimento para o José Ruy e todos os que nos lerem:
    As pranchas do PV não foram concebidas para sofrer alterações na disposição das vinhetas APENAS até à número 759, do ano de 1951. A partir de então a tira do meio passou a ser sempre formada por duas vinhetas de igual tamanho, para tornar possível, sem cortar nada, distribuir as vinhetas da prancha (de três tiras) por duas tiras, dando-lhe forma oblonga.
    Mas desde bastantes anos antes que a King Features fornecia aos jornais interessados uma versão diferente de cada prancha da série, destinada a ocupar dois terços de página do jornal e que consistia numa remontagem horrível da prancha original, cortando partes às vinhetas ou acrescentando-lhes pedaços (no meu livro “Foster e Val” há uma amostra na página 76). Foster não tinha influência nenhuma sobre esta versão e não há notícia de que tal barbaridade o perturbasse.
    Agora vamos à prancha que o José Ruy mostra, com a “misteriosa” segunda vinheta dividida em duas partes, ou melhor: com a segunda e a terceira vinhetas formando uma só composição... Não há mistério nenhum! O artista fez a mesma coisa em várias ocasiões e com uma intenção narrativa que possivelmente o José Ruy, como artista, até saberá explicar melhor do que eu. Fê-lo, por exemplo, nas pranchas 14 (repare-se: logo nos primórdios da série), na 18 e na 204.
    Quanto à montagem de “corte à tesoura” feita pela revista brasileira, o José Ruy está enganado: lamentavelmente, a King Features Syndicate nunca quis saber de como era publicado o material que vendia, nunca foi atenta a tal coisa e a sua exigência foi só e sempre, e continua a ser, com o rápido pagamento dos direitos por parte dos editores. E a prova do seu desinteresse pelo tratamento dado ao material vendido está em que o exemplo de atentado à arte que o José Ruy mostra foi SEMPRE prática banal em TODO o mundo.
    Um abraço.

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    1. Meu caro amigo Manuel Caldas, obrigado pelo esclarecimento. Quando O Mosquito publicava o «Príncipe Valente», a «King» recomendava vivamente o modo como seria publicada a série, que o Roussado Pinto convencera o Cardoso Lopes (Tiotónio) a incluir no jornal. Isso levou-me a acreditar que a exigência era para «todos». Mas o que espanta é a passividade dos autores; passou-se o mesmo com o nosso Eduardo Teixeira Coelho, quando no próprio «Mosquito» lhe cortavam desastradamente os desenhos para caber o texto.
      Claro que existem excepções quanto ao modo como o Foster foi publicado, e verá no seguimento destes artigozinhos como a obra deste Mestre saiu positivamente apresentada.
      Forte abraço amigo
      José Ruy

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