terça-feira, 25 de outubro de 2016

A ILHA DO CORVO QUE VENCEU OS PIRATAS (8)


QUAL ERA O LINGUAJAR CORVINO
USADO NA ALTURA DESTA HISTÓRIA

É muito curioso sabermos os termos linguísticos usados nesta Ilha nos séculos anteriores.
O meu amigo linguista João Saramago, um dos coordenadores científicos da história que estou a fazer, tem uma importante obra sobre os termos dialetais no Corvo e enviou-me uma súmula para eu poder inserir no decorrer dos diálogos.
Naturalmente que não podia pôr as personagens a falarem entre si numa linguagem que os leitores do livro não entendessem, e possivelmente até muitas das atuais corvinas e corvinos, pois muitos entraram em desuso.
Então combinámos que usávamos alguns termos com a respetiva «tradução» dentro das vinhetas onde estes aparecessem.
Temos por exemplo «guindo» que significa susto e que apliquei neste quadrinho.
Procurou-se salpicar o texto com esta curiosa forma de falar, sem dar à narrativa um ar intelectual que não se coadunava com este tipo de leitura. No entanto acho que enriquece o argumento, pois o leitor ficará assim com alguma informação a que achará graça, e que sem dar por isso acabará por ficar a conhecer algo mais. «Aprender distraindo-se». 
Outra expressão usada é «axe», que quer dizer que bom.
A vinheta onde entra a palavra «cramilhano» fica estranha, e é com surpresa que descobrimos tratar-se do nome dado ao diabo na Ilha do Corvo nos séculos transatos.
Quando as personagens Francisco e Inês se refugiam na Furna Negra, falam em «desfundar», «tobiada» e «enrilhada».
Pois traduzindo, «desfundar» é descobrir, «tobiada» é o mesmo que confusa e «enrilhada» significa estar com frio.
Nada o faria supor, não é verdade? Mas há mais.
Agora não se trata do linguajar na Ilha do Corvo, mas dos intrusos piratas turcos que vêm ao ataque. Eles gritam «bezzaf», «koull hadd», «koull bezzaf min t’eurf» e «âouad».
O leitor desprevenido pode pensar que esta linguagem posta na boca dos turcos é inventada, por ser tão estranha.

Certa vez na Feira do Livro de Lisboa, há muitos anos estava eu a publicar a série «Porto Bomvento», um jovem que me pediu um autógrafo no livro, perguntou se os trajos que eu desenhava nas personagens eram inventados por mim. Quando o informei de que correspondiam rigorosamente aos usado na época, e que fazia essa pesquisa em gravuras, pinturas, baixos relevos e estátuas, e também com a ajuda de livros documentais de bons autores, como «Liliane e Fred Funcken» ou do portentoso «Rothotten» ficou admirado e confessou que não pensava que a BD desse tanto trabalho.

Pois voltando à língua Árabe, estas frases correspondem ao que apresento em tradução, pois possuo dicionários de francês árabe, como também de chinês.
Abro ao acaso duas páginas deste dicionário que apresenta o som da voz quando a palavra é pronunciada, e a escrita em rasgos que se leem da direita para a esquerda.
É um grosso volume que me foi útil quando de uma estada no norte de África, em Casablanca e em Rabat.
Vão longos estes artigos, e a história vai caminhando em direção ao final. Faltam-me desenhar em definitivo pouquíssimas páginas, e agora a parte mais interessante será vermos as corvinas e os corvinos com o livro já impresso nas mãos, onde descrevo uma das histórias da sua Ilha, a que conta como os seus antepassados conseguiram sem armas vencer os piratas, apenas com pedras. É o registo de um acto heroico que as novas gerações precisam de saber e memorizar.

Voltamos ao contacto quando isso acontecer, que presumo seja no início do próximo ano de 2017.
Não deixarei de vos informar quando houver algo importante para assinalar.
Prometo.
Entretanto podem ficar a conjeturar como será o fim desta aventura.
Um pouco mais de paciência.
José Ruy
Setembro de 2016

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