6) NOVOS COLABORADORES
Descrevi
no artigo anterior a minha chegada à redação de "O Papagaio" e as
diferenças em relação à d’O Mosquito. As experiências foram diferentes, mas
aproveitei-as para alicerçar os meus conhecimentos tanto na arte gráfica como
na técnica de trabalhar as ilustrações para serem reproduzidas.
Depois de
estar mais ambientado na redação d’O Papagaio levei comigo o meu colega da
Escola António Arroio, o Vítor Silva, que sendo o mais novo era de todos nós o
que melhor desenhava já. Ficou também colaborador, o que podemos chamar de
residente.
O Carlos
Cascais era uma pessoa simpática e conhecedora do assunto, e em vez de me
dispensar das colaborações, até estar mais maduro como seria lógico, pelo
contrário continuou a apoiar-me. Encetámos uma boa amizade e o ambiente na
redação tornou-se até familiar.
Alguns estudos à pena que fiz do Carlos Cascais (em cima, à esquerda), destinados a ilustrar um conto,
e do seu filho (em cima à direita) que usei também como modelo para a história "Homens do Mar" (em baixo),
com argumento de outra colega da escola, Margarida Ângela, que também levei para a equipa de "O Papagaio".
A Margarida viria a ser também a autora do argumento da primeira história do Garcês
publicada n' O Mosquito e intitulada "O Inferno Verde"
publicada n' O Mosquito e intitulada "O Inferno Verde"
Pois
o Artur Correia, que aparecera pelo seu pé, era vizinho do Vítor Silva e do
Garcês, e só muito mais tarde, por via deste último colega nos aproximámos.
Desenhava um género cómico ou humorístico em que viria a afirmar-se.
Página de uma história com desenhos do Vítor Silva... |
...e também desenhos do Artur Correia que enviara para a colaboração dos leitores, chegando depois a fazer algumas histórias ilustradas com argumento de um amigo seu que assinava "Carlos Seca" (?) |
Esses
encontros na redação prolongavam-se a trocar impressões e conversas.
Por vezes aparecíamos à noite, depois do jantar, quando o nosso estudo e o trabalho o permitiam. No entanto nada comparável com a tertúlia da redação de "O Mosquito".
Por vezes aparecíamos à noite, depois do jantar, quando o nosso estudo e o trabalho o permitiam. No entanto nada comparável com a tertúlia da redação de "O Mosquito".
Confraternizávamos
já com os operadores e locutores do Rádio Renascença, cujos estúdios ficavam ao
lado da sala da redação, separados por um corredor. Pelas vigias circulares nas
portas à prova de som, espreitávamos curiosos o aspeto do seu interior.
A partir
de uma certa hora da noite punham música gravada em bobinas de fita com longa
duração, e os locutores mais livres nessa altura costumavam vir larachar
connosco um bocado vendo os desenhos e contar histórias. Depois deixavam-nos ir
ao interior dos estúdios enquanto transmitiam os pacotes de música cujos
títulos iam anunciando de espaço a espaço.
Eu e o
Vitor Silva pedíamos-lhes para colocarem no ar músicas do nosso agrado, como o
«Bolero» de Ravel, «Scheherazade» e «O Voo do Moscardo» de Rimski Korsakov, «A
Dança Ritual do Fogo» de Manuel de Falla e outras que escutávamos enlevados
pelos altifalantes instalados nas outras salas. Era um fascínio; para nós essa
componente sonora fazia parte integrante da redação.
"Tonito Cowboy", uma das três histórias que José Garcês publicou n' O Papagaio |
Toda a
colaboração tinha de ser realizada também com um avanço em relação à data da
publicação, sem ser necessário entregar a história completa. Também não nos
marcavam limites no número de páginas nem impunham temas. Havia uma liberdade
total.
(Continua)
No
próximo artigo: ALTERAÇÕES NA REDAÇÃO
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