terça-feira, 19 de novembro de 2019

AS HISTÓRIAS QUE RESIDEM NA GAVETA (16) por José Ruy

O termo de conservarmos histórias na «gaveta» é simbólico; eu por exemplo
tenho-as arquivadas em pastas e em diversas estantes, conforme os assuntos.
Mas é um facto que numa gaveta ou numa pasta, elas estão encalhadas.
A que tirei agora para mostra, é a «História da Cruz Vermelha Internacional».
Também neste caso só uma parte da obra não foi publicada.
Tudo começou em 1978, quando dois jornalistas e um ator criaram um programa na RTP para auxiliar a «Cruz Vermelha Portuguesa». Foram o Carlos Cruz, o Fialho Gouveia e o Raul Solnado; deram-lhe o título de «PIRÂMIDE».
Consistia em reunir dádivas de todo o género, desde dinheiro, roupas mesmo usadas, objetos e até livros.
Pensei em ajudar, mas sem ter a possibilidade de dar uma quantia justificativa nem objetos pessoais ou vestuário que valessem a pena, decidi fazer uma história em quadrinhos com a vida de Henry Dunant, o fundador da Cruz Vermelha, que não estava ainda feita, e oferecer.
Ofereci os direitos de publicação à Cruz Vermelha Portuguesa, e foi publicada na revista «Tin-Tin» por intermédio do Dinis Machado e no «Mundo de Aventuras», pela mão do Jorge Magalhães. Os originais entreguei-os à instituição. Contei a história em seis pranchas, com os elementos que consegui colher. 
Nessa altura havia ainda no mundo quatro símbolos representando esta instituição.
A Cruz Vermelha (o negativo da bandeira suíça) no Ocidente, o Crescente Vermelho no mundo
islâmico, estes dois juntos na União Soviética e o Leão Vermelho na Pérsia.
Israel estava em negociações para conseguir adotar como tal a Estrela de David.
Acontece que as instituições nacionais da «Cruz Vermelha» em cada país, editam revistas para divulgar as suas atividades, que são enviadas para Genève. A de Portugal chamava-se «Humanidade».
No Comité da Cruz Vermelha Internacional viram a história e ficaram interessados; enviaram um telegrama ao Capitão Costa Pereira, o coordenador da publicação e que fora meu condiscípulo na Escola António Arroio, a propor que eu fosse a Genève com brevidade. Convidavam-me a fazer essa história, mas com mais documentação que me forneceriam na Suiça. 
Estive duas semanas no CICR, Comité International de la Croix-Rouge, a receber informações precisas do funcionamento da instituição, com depoimentos de vários delegados especializados nos três continentes, europeu, africano e asiático, para poder criar um argumento. A ideia do jurista que me recebeu e acompanhou em todo o tempo, Jean-Jacques Surbeck, era fazer um livro com cerca de 50 páginas mostrando as competências da Cruz Vermelha Internacional e da Liga das Cruzes vermelhas Nacionais para ser editado em 10 línguas.
Regressei com duas malas cheias de documentação e mesmo lá elaborei um esboço que foi aprovado.
Em breve comecei a enviar para o CICR os esquiços pelos CTT, pois na altura não tínhamos a net. 
Eu escrevia em português sobre os esboços a lápis e o Jean Jack Surbeck passava para a língua francesa. 
Mas eu precisava ter presente a tradução de todas as línguas envolvidas para calcular com precisão o tamanho dos balões, de modo a que os diversos textos coubessem nos mesmos espaços. 
E aí surgiu um problema... 

No próximo artigo: de novo convidado a voltar a Genève.

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