domingo, 4 de fevereiro de 2018

HERÓIS INESQUECÍVEIS (53) - WLADIMYR

Criação do casal Monique e Carlos Roque (1936-2006), ela belga, ele português, Wladimyr é um pato que vive quase todas as suas aventuras em meias-pranchas de quatro vinhetas, contracenando com outros personagens como a rã Élodie, o cão Ygor, uma avestruz, um ouriço, um bode, um hipopótamo, etc.
Surgido na revista Spirou, entre 1969 e 1983, Wladimyr nasceu por inspiração de Monique. Foi esta quem propôs ao marido, Carlos, a realização de uma série humorística com um pato, cujas aventuras decorreriam num pequeno lago. 
Monique e Carlos Roque
A princípio Carlos não se mostrou demasiado entusiasmado com a ideia, dado que "já existiam muitos patos na banda desenhada", aludindo à família de patos da Disney.
Monique não se deixou convencer e, enquanto apresentava duas ou três ideias para "gags", argumentou que este pato seria diferente dos demais e que o lago onde habitava poderia ser visitado por outro tipo de bichos, que, assim, fariam a ligação com o "mundo exterior".  
Carlos ficou entusiasmado com os "gags" (que, de facto, "só funcionavam com um pato"), reconsiderou e decidiu mesmo avançar para a série, com uma pequena condição: os personagens não seriam antropomorfizados, como os de Walt Disney. "Nada de animaizinhos de chapéu e gravata, que soubessem conduzir e tocar piano!"...
Nascia, assim, Wladimyr, um herói verdadeiramente inesquecível...
Em Portugal, as aventuras de Wladimyr foram publicadas na revista "Selecções BD" (2.ª série), a partir de 1998.








Por vezes, Carlos e Monique incluiam Wladimyr e Élodie em cartões de Boas Festas que enviavam a amigos, como é o caso que a seguir apresentamos.

Há quem considere que Wladimyr seria o alter ego de Carlos Roque, assim como a rã Élodie seria o de Monique.
A publicação de uma curiosa BD de duas pranchas na revista "Spirou" (belga) veio, talvez, reforçar esta ideia... que Monique acha exagerada, reconhecendo, contudo, que algo da personalidade dos dois autores se reflectia nestes simpáticos personagens...

Com Wladimyr, o casal Roque obteve em Bruxelas, no ano de 1976, o prestigiado Prix Saint-Michel.
Uma pena que até hoje nunca tenha sido editado, quer em Portugal, quer na Bélgica, ao menos um álbum que recuperasse algumas tiras desta excelente série humorística...
CR

5 comentários:

  1. Mais um excelente artigo desta rubrica, recordando um talentoso autor português (um dos maiores da nossa BD humorística), que nos deixou demasiado cedo, quando tantos projectos sonhava ainda pôr em prática. É, de facto, lamentável que a série Wladimyr, a maior obra-prima, não tenha despertado até hoje o interesse de nenhum editor português (à parte a publicação de alguns episódios nas "Selecções BD", interrompida com o fim da revista).
    Como tem dito repetidamente o Luiz Beira, e com razão, parece que esses editores andam nas nuvens... tão alheados se mostram da BD portuguesa clássica e dos seus nomes mais incontornáveis, como é o de Carlos Roque. Um alheamento que não se compreende nem se desculpa, em termos culturais e da 9ª Arte.
    Parabéns ao BDBD por mais um magnífico post e pela justíssima homenagem a Monique e Carlos Roque... que gostaria, se me permitirem, de reproduzir oportunamente num dos meus blogues.
    Um grande abraço,
    Jorge Magalhães

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    1. Amigo Jorge Magalhães,
      Muito obrigado pelas suas palavras, que sempre nos revitalizam e nos dão força para continuar.
      A recolha em álbum das aventuras do pato Wladimyr é algo que já deveria ter sido feito há muito tempo. Houve uma altura, quando o salão Moura BD se realizava anualmente, em que pensei propor o Carlos Roque para autor homenageado, assim como a publicação de um número dos Cadernos Moura BD onde o Wladimyr teria, naturalmente, lugar de destaque.
      Infelizmente, o Carlos faleceu antes disso, tendo sido homenageado uns anos depois, póstumamente. Foi a Monique quem recebeu o Troféu Balanito Especial, como certamente se recorda.
      Foi pena. Não cheguei a conhecer o Carlos pessoalmente, como desejava, pois admiro imenso o seu maravilhoso traço, o seu humor, o seu trabalho de maquetista na Spirou, as capas que desenhou (a capa do "Cruzeiro do Caranguejo" é fantástica!), o tipo de letra com que legendava os balões (desenhado manualmente, como eu sempre preferirei - algo que hoje vai ficando em desuso, como sabe)...
      Em todo o caso, foi possível fazer-lhe uma bela exposição (apesar de tudo, bem pequena atendendo ao volume que a sua obra comporta) que, depois, acabou por seguir para o Festival da Amadora, onde pode ser vista por muitos mais visitantes, felizmente.
      Bem, Jorge, já sabe que é escusado pedir autorização para publicar aquilo que entender do nosso blogue pois já sabe, também, qual é a nossa resposta: 100% positiva, como não poderia deixar de ser. Para nós é, até, uma honra. :)
      Grande abraço
      Carlos Rico

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  2. Rectifico, na 3ª linha: a sua maior obra-prima
    JM

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  3. Amigo Carlos Rico,
    Muito obrigado pela resposta ao meu comentário e ao meu pedido... Quanto a este, eu também me sinto particularmente honrado (e muito grato ao BDBD) sempre que posso (re)publicar um dos seus magníficos trabalhos. E são tantos que a dificuldade está na escolha :-) e no espaço, cada vez mais curto, de que disponho no "Gato Alfarrabista". Felizmente, nos outros blogues esse problema ainda não se põe...
    Recordo-me muito bem da homenagem prestada postumamente ao Carlos Roque pelo Salão de Moura, em que também estivemos presentes, eu e a Catherine, com a Monique Roque. E mais tarde pudemos revisitar essa exposição no Festival da Amadora... que só se terá lembrado do Carlos (segundo creio) graças a si e ao Salão de Moura.
    O Carlos foi um dos meus melhores amigos, desde a nossa juventude, pois nos anos 50 morávamos em Lisboa, muito perto um do outro. Reencontrei-o quando das suas frequentes visitas a Portugal nos anos 80 (já com a intenção de regressar definitivamente, pois tinha acabado por comprar um apartamento na Parede). Mais tarde, nas "Selecções BD", tive o privilégio de contar com a sua colaboração e de publicar alguns episódios do Wladimyr, os únicos que existem até agora em português. Mas o Carlos, que já estava um pouco desiludido com o mercado belga, não teve melhor sorte em Portugal e quase todos os seus projectos ficaram na gaveta. Como verdadeiro criador que era, nunca parou, contudo, de desenhar... e pouco antes do seu falecimento (inesperado, para todos nós, embora a sua saúde já estivesse muito abalada, por causa do tabaco, que nunca largou) ainda me deu o prazer de colaborar comigo numa história curta publicada no livro de homenagem a Vasco Granja.
    Admirava-o muito e ainda hoje sinto muito a sua falta, mitigada um pouco pela companhia da Monique, com quem nos encontramos com alguma frequência, sempre que ela está em Portugal. O Carlos Roque foi, sem dúvida, um dos grandes humoristas da BD portuguesa, mas tinha também grande talento para a BD realista, embora não tenha escolhido essa via na sua carreira, orientada sempre para os "bonecos" (como ele dizia), com um traço caricatural, cada vez mais refinado, que lhes dava (e dá) imensa graça. A propósito, tem visto os postais ilustrados que tenho publicado no blogue "A Montra dos Livros" (e que já saíram também no "Gato Alfarrabista"), com desenhos do Carlos e do Júlio Gil? São uma delícia!
    Um grande abraço e continuação do bom trabalho.
    Jorge Magalhães

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  4. Amigo Jorge,
    Tem toda a razão quando diz que o Carlos Roque tinha grande talento para a BD realista. Quando organizámos a exposição do Carlos Roque para o salão de Moura, em 2011, deparei, no meio das inúmeras pastas de desenhos do Carlos, com uma série de esboços (alguns já entintados) que não mais esqueci. Autênticas maravilhas, digo-lhe!
    Mas - digo eu - felizmente o Carlos enveredou pela BD humorística, onde atingiu um patamar superior, e assim se tornou um dos nossos maiores autores nessa área, ombreando, por exemplo, com o Artur Correia, outro dos nossos grandes Mestres, que também se dedicou em exclusivo a esta vertente tão específica da banda desenhada.
    Como admirador profundo dos seus blogues, Jorge, é claro que acompanho sempre os posts que você publica, na "Montra dos Livros" e nos outros, e tenho mesmo uma pasta com todos essas ilustrações do Carlos, junto com as do Júlio Gil, no meu computador, para me deliciar, de vez em quando, e procurar, também, corrigir algum pormenor nos meus próprios desenhos, quando necessário. :)
    Grande abraço
    Carlos Rico

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