sábado, 30 de janeiro de 2016

EVOCANDO (18)... FERNANDES SILVA

Fernandes Silva (1931-2010)
Passam hoje seis anos que Fernandes Silva nos deixou fisicamente. Grande entre os grandes da BD Portuguesa, se a sua obra não é extensa, é no entanto bem marcante pelo estilo, quase sempre na linha do humor absurdo, do qual foi um incontestável perito.
De seu nome completo António Fernandes da Silva, nasceu em Lisboa a 18 de Agosto de 1931. Frequentou a famosa Escola António Arroio. Começou a publicar-se no “República dos Miúdos “ (suplemento do diário “República”). Depois, projectou-se grandiosamente pelas páginas de “Diabrete”, “Cavaleiro Andante” (e seu “Pagem”), “Camarada” (2ª fase), “Flecha” e “Pisca-Pisca”.
Algumas das suas BD's foram reeditadas em “Cadernos Sobreda-BD” (n.º 8) e “Almada-BD Fanzine” (n.º 6).
Sua arte ia para outras vertentes mais, como ilustrações soltas, cartunes, cartazes, postais dos CTT, desenho publicitário, etc.
Afastou-se da BD, sem nunca deixar de a acompanhar e ler, tendo exercido por largo tempo o cargo de Chefe do Sector de Artes Gráficas da RTP.
Foi homenageado no salão internacional “Sobreda-BD/2000”, tendo-lhe sido atribuído o Troféu Sobredão.
Estranhamente, não há ainda, um único álbum com as suas histórias!!...
Pela sua bibliografia, contam-se:
- “Alice no País das Maravilhas”, uma encantadora versão da novela de Lewis Carroll, publicada no “Cavaleiro Andante”, com as duas últimas pranchas no suplemento “O Pagem”.
in "Cavaleiro Andante" #4

- “O Estranho Caso do Dr. Rapioca”, publicada no “Diabrete” e depois reeditada no “Almada-BD Fanzine”.
in "Diabrete" #872

- “Cuca”, um divertido petiz em altas “loucuras”. Suas peripécias saíram no “República dos Miúdos”, “Cavaleiro Andante” e no “Camarada”.
in "Cavaleiro Andante" #283

- E, no topo e em glória, as aventuras do célebre detective sem rosto, “O Ponto”. Apenas três aventuras notáveis, com as duas primeiras publicadas no “Diabrete” (a segunda foi reeditada depois nos “Cadernos Sobreda-BD”) e uma terceira que estava a ser publicada na “Flecha”, mas ficou incompleta porque esta revista acabou, de repente.
in "Diabrete" #856
in "Diabrete" #862

Recuperar em álbum as histórias deste genial artista nosso, talvez um dia, quando se recuperar a Cultura em Portugal!...
LB

Prancha 6 de "O Outro Lado da Lua"
Prancha 11 de "O Outro Lado da Lua"
Capa com desenho de Fernandes Silva, in "Almada BD Fanzine" #6 (1991)
Último trabalho de Fernandes Silva, que reproduzimos, com a devida vénia,
a partir de "Era uma vez..." (XXXV)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

UMA OBRA... VÁRIOS ESTILOS (5) - ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS

Há por aí - tem havido através dos tempos - quem julgue que “Alice no País das Maravilhas”, é uma obra literária para crianças... Que insensatez! Que triste é tanta incapacidade de tantos adultos que jamais perceberam ou percebem o feroz sarcasmo de Carroll, quando escreveu genialmente este impiedoso texto onde ridiculariza políticas e sociedades.
Quando o vulgo que por esta vida se arrasta não percebe patavina que o Astérix e a Mafalda (exemplos soltos) não são séries que tenham a ver com as criancinhas... Pois, pois!
Ora vamos a alguns (certamente existirão muitos mais) exemplos desta obra na Banda Desenhada.
Nomes/talentos mais notáveis: para além de Alex Blum e do nosso Fernandes Silva, sinalizamos Jun Abe, François Amoretti, a brasileira Erica Awano, Rebecca Dautremer, e um álbum colectivo francófono, onde são notórios os traços de Dany e de Turk, assinando como Daluc (em parceria com Dupa) e Turbo (em parceria com De Groot).
“Alice no País das Maravilhas” é a obra de honra do escritor inglês Charles Lutwidge Dagson, conhecido pelo seu pseudónimo Lewis Carroll, nascido a 27 de Janeiro de 1832 (cumprem-se hoje, precisamente, 184 anos!) e falecido a 14 de Janeiro de 1898.
Muito e muito se pode apreciar e discutir ante as belas adaptações à 9.ª Arte de “Alice no País das Maravilhas”... É ao gosto, fácil ou não, de cada um!...
Por nossa parte, temos como “pontos altos” algumas versões, a saber:

ALEX BLUM, em “Classics Illustrated” #49, e depois no Brasll, em “Edição Maravilhosa” #30 (1950).
  


WALT DISNEY - Os Estúdios Disney (que, durante anos, nunca creditavam os nomes dos verdadeiros autores das histórias), publicou na revista "Mickey Mouse" uma versão em banda desenhada, sendo que a primeira prancha foi publicada praticamente em simultâneo com a estreia, nas salas de cinema, do filme animado "Alice in Wonderland", que os mesmos Estúdios produziram.


CHIQUI DE LA FUENTE - Este prolífico autor espanhol, que passou à BD inúmeros clássicos da literatura infanto-juvenil (alguns deles publicados no nosso país) trabalhou também, como não poderia deixar de ser, este tema com guião dele próprio (embora na primeira prancha apareça o pseudónimo "José Luís").



FERNANDES SILVA, esse especial e quase olvidado artista nosso (autor do famoso herói-BD “O Ponto”, que criou para a revista “Cavaleiro Andante”, logo a partir do #1) realizou uma das mais belas, quiçá a melhor de todas, adaptações à BD deste clássico literário.
Incrível que nenhuma editora portuguesa se tenha interessado por este assunto!... Continuamos a desrespeitar os nossos talentos, o nosso público bedéfilo e a nossa Cultura, só pensando nos cifrões a aboletar facilmente...
Curiosamente, no telejornal da SIC, a 21 de Abril de 2015, numa reportagem cultural de Portugal em Macau, escutámos uma pertinente afirmação do Dr. Pedro Machado, Presidente da Câmara Municipal de Lousada: "Com a Cultura não se gasta dinheiro. Com a Cultura, investe-se".


DALUC E TURBO (ou sejam, Dany, Greg, Bob De Groot, Dupa e Turk), num álbum colectivo, publicado em 1973, pelas edições Lombard, reeditado em 1987 pela M.C. Productions. Teve também uma edição em português, pela SEL, em 1980. 
Capa e prancha da primeira versão (Lombard, 1973)...

...e capa da segunda versão (M.C. Productions, 1987)

DAVID CHAUVEL E XAVIER COULLETTE, numa edição lançada em 2010 pela Drugstore e incluída na colecção "Romances Gráficos".



Rodapé - Cerca de uma dezena de adaptações para o Cinema/TV têm sido feitas desta famosa obra de Lewis Carroll. Indicam-se alguns exemplos: o primeiro foi realizado em 1933 por Norman Z. McLeod e o último (até ver) em 2010 por Tim Burton. Na Animação e pelas Produções Walt Disney, em 1951, aconteceu o filme realizado por vários, como Clyde Geronimi e Wilfred Jackson.
Também Jesus Blasco ilustrou, sem ser em Banda Desenhada, uma edição espanhola de “Alice no País das Maravilhas”.

Nosso agradecimento a Carlos Gonçalves pelo seu amigo apoio.
LB

domingo, 24 de janeiro de 2016

BREVES (21)

NOVO ÁLBUM DE SPACCA
Da notável obra do grande desenhista brasileiro João Spacca salientam-se os maravilhosos álbuns “D. João Carioca” e “As Barbas do Imperador”, que apresentou na última edição (2015) do Salão de Beja, e que a todos encantou.
Em contrapartida, aí se deliciou a saborear o típico “cozido de grão”...
Pois Spacca terá novo álbum muito em breve, versando a biografia do santo italiano Padre Pio, do qual mostramos uma prancha. Aguardemos, pois, por tal obra anunciada.
Prancha de "Padre Pio" (trabalho ainda inédito)



"A VIAGEM DO ELEFANTE" COM PASSAGEM PELA TURQUIA
Foi com prazer que recebemos a notícia de que João Amaral viu ser publicado na Turquia o seu último álbum, "A Viagem do Elefante", obra adaptada do romance homónimo de José Saramago.
A edição tem chancela da editora Kirmizi Kedi (literalmente, Gato Vermelho).
João Amaral vê, assim, reconhecido o seu trabalho além fronteiras, facto bem pouco habitual entre os autores portugueses. Parabéns, João!



JIM DEL MÓNACO COM NOVO ÁLBUM AINDA ESTE ANO
Entretanto, a dupla Luís Louro e Tozé Simões, que em boa hora regressou à BD depois de um largo interregno, está a trabalhar em mais uma aventura de Jim del Mónaco, com lançamento agendado ainda para este ano (no Festival AmadoraBD?).
Deixamos aqui o trailer desse trabalho, só para aguçar o apetite aos mais impacientes...



"O MOSQUITO" CONTINUA A VOAR
O almoço que, nos últimos anos, se tem vindo a realizar em Lisboa, com o intuito de festejar o aniversário da famosa revista "O Mosquito", teve lugar no passado dia 16 de Janeiro, sendo, até hoje, o mais participado de sempre.
É bem possível que a data redonda que "O Mosquito" cumpriu (80 anos), fosse o definitivo pretexto para que muitos indecisos optassem por marcar presença neste já tradicional convívio bedéfilo. E ainda bem que o fizeram, pois assim a festa foi mais bonita e o espírito "mosquiteiro" voou mais alto...
Imagem do almoço-convívio que bateu o record de presenças

Após o repasto, e já na novel sede do Clube Português de Banda Desenhada (CPBD), os convivas puderam assistir a uma palestra de José Ruy sob o tema "Quando entrei para O Mosquito"...
Imagem da palestre de José Ruy, com boa assistência

...a que se seguiu a inauguração das exposições "80 Anos de O Mosquito" e "Tributo a Eduardo Teixeira Coelho", que se manterão abertas, de aqui em diante, aos sábados, entre as 15:30 e as 18:00 horas, até 12 de Março.
Um agradecimento especial ao CPBD que, gentilmente, nos cedeu as fotos que aqui vos apresentamos.
Inauguração das exposições




ANIVERSÁRIOS EM FEVEREIRO
Dia 09: José Matos-Cruz e Zeu
Dia 11: Pedro Morais
Dia 15: Art Spiegelman
Dia 20: Sergei
Dia 21: Luís Pinto-Coelho e Zenetto
Dia 25: Eugénio Silva

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

EVOCANDO (17)... JACQUES MARTIN

Nota Prévia: nesta segunda fase da nossa rubrica “Evocando”, só ocasionalmente focaremos alguns talentos estrangeiros, atendendo a que vieram pela primeira vez a Portugal ao Salão Internacional Sobreda-BD (1982-2006), do qual eu era o fundador e coordenador. Tudo bem?...


Jacques Martin (1921-2010)
Pois hoje, 21 de Janeiro de 2016, evoca-se precisamente o sexto ano sobre o falecimento do grande senhor da Banda Desenhada que foi e é, mestre Jacques Martin. Nasceu em Estrasburgo (França) a 25 de Setembro de 1921 e faleceu a 21 de Janeiro de 2010 em Orbe (Suíça).
Esteve pela primeira vez em Portugal, para ser homenageado, no salão “Sobreda-BD /1990”. Voltou mais tarde, fugazmente, para uma exposição em Lisboa e depois, para uma das edições do Festival-BD da Amadora.
Seu desporto favorito era o esqui na neve. Tinha residências na Bélgica e na Suíça.
Muito afável e também irónico, a sua arte espalha-se por ilustrações soltas, cenografia teatral, aspectos da guerra, publicidade e, sobretudo pela Banda Desenhada, como argumentista e como desenhista. Chegou a usar os pseudónimos Jam Marleb.
Capa e prancha de "Le Hibou Gris", onde Jacques Martin usa o pseudónimo "Marleb"

Investigador de diversas épocas da História, por aqui se dedicou apaixonadamente pela Grécia, Roma e Egipto. Foi grande colaborador de Hergé, donde o ter redesenhado o álbum “O Vale das Cobras” da série “Jo, Zette et Jocko” e de ter criado situações hilariantes em diversas aventuras de “Tintin”.
Hergé e Jacques Martin
Da sua invejável obra em BD, contam-se as séries “Alix”, com dezenas de tomos, dos quais terá desenhado apenas dezanove; “Lefranc”, com cerca de trinta tomos, dos quais apenas desenhou os três primeiros; “Orion”, breve série ainda em aberto, da qual desenhou os dois primeiros tomos.
E onde foi apenas argumentista, as séries “Jhen” (que se chamava “Xan”, na primeira versão dos dois primeiros tomos), “Arno”, “Kéos” e “Loïs”.
Mas há obras suas, anteriores, que se notabilizam na sua bibliografia: “Le Hibou Gris”, “La Cité Fantastique”, “Histoire d’Alsace”, a curta série “Oeil de Perdrix”, “Monsieur Barbichou”, “Lamar, l’Homme Invisible”, “Sept de Trèfle”, etc.
Criou uma série pedagógica servindo-se dos seus heróis principais: Alix, Lefranc, Jhen, Loïs, Orion... Destes, na série “Les Voyages de Loïs”, dedicou um tomo ao nosso país, “Le Portugal”, que foi ilustrado pelo nosso Luís Diferr, contando com uma edição em português.
Capa e prancha de "La Cité Fantastique", da série Clark Pilote d'Essai

Duas capas de Alix, a mais famosa criação de Jacques Martin

Capas de "Le Lac Sacré" (da série Orion) e de "Chesapeake" (da série Arno,
onde Martin participou apenas como argumentista)

Das homenagens e prémios que recebeu, contam-se: em 1979, o Prix Saint Michel em Bruxelas, pelas séries “Alix”, “Lefranc” e "Jhen”; 2003, Grand Prix Saint Michel; 2005, recebeu a Comenda de Cavaleiro da Ordre des Arts et des Lettres, que lhe foi agraciada pelo então ministro da cultura francês, Jack Lang; 2005, Prix Crayon d’Or , no 22.º festival de Banda Desenhada de Middelkerke (Bélgica). Das muitas obras (ensaio, estudos, entrevistas, etc) que lhe têm dedicado, salienta-se o volume “Avec Alix, l’Univers de Jacques Martin” por Thierry Groensteen e Alain De Kuyssche, que em 2002 teve uma reedição pela Casterman.
Através dos seus heróis, Jacques Martin registou com perícia e paixão, diversas épocas da História: Antiguidade Clássica (Alix, Kéos Orion), Idade Média (Jhen), “Século das Luzes” (Loïs), Era Napoleónica (Arno) e, a actualidade, com Lefranc.
Não desejou que a sua obra morresse com ele e foi fazendo escola, donde se salientam discípulos como Jean Pleyers, Christophe Simon, Rafael Morales, Gilles Chaillet, Jacques Denoël, Marc Henniquiau e outros mais, tendo havido ainda a colaboração ocasional de Roger Leloup e de André Juillard.
Em português, na versão álbum, foram publicados alguns tomos da séries Alix, Lefranc, Kéos Arno.
LB


Capa de "Le Mystère Borg", da série Lefranc


Capa de "Le Cobra", da série Keos, com desenhos de Jean Pleyers e argumento de Jacques Martin
Capa do álbum "Le Portugal", com desenhos do português Luís Diferr
Prancha de "Le Fils de Spartacus", da série Alix
A admirável Arte de Jacques Martin num belíssimo esboço para a série Alix