7) ALTERAÇÕES NA REDAÇÃO
No artigo anterior dei nota do ambiente na redação d’O
Papagaio, das regras e da liberdade que tínhamos quanto aos temas a abordar.
Hoje considero termos também influído nas modificações que se deram.
Em dada altura o Roussado Pinto fez a sua aparição na
redação d’O Papagaio, como colaborador. Começou a escrever contos que acompanhava com desenhos do Vítor Péon, feitos para um projeto falhado de outro
jornal depois que o «Pluto» acabou, e trazendo material de autores ingleses e
espanhóis. Foi acentuando a sua influência considerando-se um ajudante do
Carlos Cascais.
O aspeto do jornal modificou-se então.
A nova
colaboração trazida para o jornal pelo Roussado Pinto.
Eram de origem inglesa,
espanhola e portuguesa, do Vítor Péon.
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Na tabela de preços entre as páginas com histórias
ilustradas e as ilustrações soltas havia um desequilíbrio considerável.
As páginas em Quadrinhos eram pagas a 20 escudos e as
ilustrações do interior a 7 escudos e cinquenta centavos. Como uma página de
narrativa gráfica continha vários desenhos, seis, oito, se fosse paga como as
ilustrações soltas valeria 45 escudos.
Então começámos a reduzir o número de vinhetas fazendo
quatro por página, como compensação.
Entretanto no início de 1948 o Roussado Pinto decidiu
fazer o argumento de uma História em Quadrinhos para eu ilustrar. Fiquei
satisfeito, mesmo tendo que dividir o valor a receber, pois ia trabalhar numa
história melhor concebida. Foi o primeiro argumentista que tive, pois os
enredos eram e têm sido sempre de minha autoria, com poucas exceções. Chamou-lhe
«Os Cavaleiros do Vale Negro».
Mas o Roussado Pinto estipulou que faríamos essa história
com seis vinhetas, para conseguirmos uma sequência mais dinâmica em cada
episódio. Tinha toda a razão. Dividimos os 20 escudos, 15 para o desenho e 5
para o texto. A partilha entre o argumentista e o desenhador foi sempre nesta
proporção, salvo em casos especiais e sempre de comum acordo.
Mas passámos a ter muito pouco avanço, ele fornecia-me o
argumento duas semanas antes da publicação, o que me obrigava a um ritmo
acelerado, para não falhar a entrega.
Nessa altura já trabalhava n’O Mosquito, continuava a
estudar na Escola António Arroio e esta colaboração tinha de ser feita em
serões.
A história ia-se desenrolando com o tempero que o autor
do texto sempre aplicou em doses certas nos seus argumentos, contos e novelas.
Mas a sua relação com o Carlos Cascais começou a não ser
pacífica. O Roussado Pinto punha e dispunha sem o consultar, alterava histórias
que estavam programadas e chegou a contactar a administração com uma proposta
de que não cheguei a saber o conteúdo, mas que desagradou ao Carlos Cascais,
por ter sido nas suas costas. Brigaram e o Cascais impôs a sua posição de chefe
de redação.
Intuí, por frases soltas, que teria feito uma tentativa
no sentido de substituir o Carlos Cascais.
O Roussado Pinto voltou as costas e afastou-se. Deixou
«Os Cavaleiros do Vale Negro» órfãos de argumentista, e voltando-se para mim,
disse que continuasse a história, pois tinha boas condições para isso.
Sem saber o que ele imaginara para o seguimento da
aventura, pois as sequências eram improvisadas à última da hora, fui dando rumo
aos acontecimentos. Mas caí na tentação errada de voltar às quatro vinhetas por
página.
O Vítor Silva criava secções com curiosidades, bem
desenhadas, e realmente a estrutura do jornal estava muito diferente do que há
quatro anos atrás.
A administração d’O Papagaio certo dia reclamou na
«Litografia Salles» que usando este jornal 4 cores, o seu aspeto gráfico não se
comparava ao d’O Mosquito, só com 3 cores. O Salles, dono da gráfica e que
conhecia o meu trabalho, contactou o Baptista Moreira, o transportador
litógrafo de O Mosquito, para me convidar a ir litografar um número d’O
Papagaio, para provar à administração do jornal que podiam fazer melhor. Uma
parte do problema estava no orçamento muito à pele, que não dava para a oficina
poder convidar um oficial profissional para esse trabalho, que era executado
por aprendizes. Mas como a comparação tinha sido com O Mosquito, fez questão de
ser o mesmo autor das cores a fazer esse trabalho.
Não sei se por coincidência, se o Carlos Cascais deu um
jeito nisso, o número marcado para a experiência tinha na capa e nas centrais
desenhos meus a ilustrar um conto também de minha autoria.
Pedi autorização ao Tiotónio, que me disse não ter o meu
exclusivo e que estivesse à vontade. Na «Litografia Salles» não usavam
aerógrafo e levei o d’O Mosquito emprestado.
Foi neste número 710 de O
Papagaio que as cores foram litografadas por mim. Claro que a «Litografia
Salles» depois apresentou uma proposta ao jornal, que para manter o aspeto
gráfico obtido teriam de cobrar mais, e esse pormenor determinou que ficasse tudo
como antes.
Mas no ano seguinte…
(Continua)
No próximo artigo: A NOVA REDAÇÃO E A TRANSFORMAÇÃO DO JORNAL
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