5) COMO ERA A REDAÇÃO DE "O PAPAGAIO"
Contei no artigo anterior como
se criou e funcionava uma tertúlia na redação de "O Mosquito", aos fins de tarde.
Terminei assim a descrição do que assisti nos anos em que trabalhei nesse
jornal, que para mim foram anos de ouro. Sob o aspeto cultural, claro.
Quando aos 14 anos acompanhado pelo meu pai me desloquei ao jornal "O Papagaio" a mostrar os meus desenhos, fui recebido pela chefe de redação Helena Arroyo que gostou deles e pediu uma história para o número de Natal que estava próximo. Sugeri fazer o desenho de um «Presépio» que ela logo destinou para as páginas centrais. Corria o ano de 1944.
Quando aos 14 anos acompanhado pelo meu pai me desloquei ao jornal "O Papagaio" a mostrar os meus desenhos, fui recebido pela chefe de redação Helena Arroyo que gostou deles e pediu uma história para o número de Natal que estava próximo. Sugeri fazer o desenho de um «Presépio» que ela logo destinou para as páginas centrais. Corria o ano de 1944.
Eram desenhos incipientes, os que fazia, já nessa altura tinha
a nítida noção disso, mas para melhorar o traço era importante ver o trabalho
publicado, só assim podendo observar as alterações surgidas depois de ser
reproduzido e de ter passado pela «calandra mecânica». O processo gráfico era
muito diferente do que se nos apresenta hoje, com o digital.
Não havia ainda a fotocópia para nos mostrar o efeito da
redução. Utilizava uma lente de uns óculos antigos de meu pai que era míope. Posta
em posição entre o original e o meu campo de visão conseguia ver a imagem mais
pequena. Ajudava mas era insuficiente, pois além da redução, havia no acto da
impressão o engrossar do traço, o que obrigava a evitar fazer muitos pormenores
que depois se transformariam em pequenos borrões.
Isto passou-se três anos antes de ingressar na equipa de "O Mosquito".
Fiquei colaborador efetivo e passei a frequentar uma ou
duas vezes por semana a redação, que estava instalada numa das salas da Rádio
Renascença, na Rua Capelo, perto de onde se encontrava a Biblioteca Nacional.
Era sempre pelo fim da tarde, altura em que a Helena Arroyo exercia ali o seu
trabalho, pois tinha outras ocupações, creio que de professora.
A primeira
novela que escrevi para "O Papagaio", com ilustração, e que durou vários
números. A capa junta anunciava outra novela de minha autoria, «O Assalto ao
Correio».
A sala da redação era ampla, com grandes janelas que
deitavam para a Rua Ivens. Cheirava a alcatifas e à madeira dos móveis, nada
parecido com o odor adocicado das tintas de impressão da redação de "O Mosquito" que tinha em fundo o som cadenciado da máquina a imprimir, das oito horas até à
meia-noite.
O Méco, pai do grande artista Zé Manel, também colaborava
com os seus deliciosos desenhos. Pertencia à equipa de "O Século Ilustrado" dirigida
pelo Mestre João Rodrigues Alves com quem eu tinha aulas na Escola António
Arroio.
Era quase sempre pelo telefone que lhe indicavam os
pormenores das ilustrações que precisavam. Depois, quando se dirigia para «O
Século» passava de raspão pel’O Papagaio para entregar o material. Era raro
encontrarmo-nos na redação, só por coincidência, mas com frequência eu visitava
a sala de desenho do "Século" para falar com o Mestre Alves e encetei aí uma boa
amizade com o Méco, o Domingos Saraiva e o Baltazar.
Alguns colaboradores também enviavam para "O Papagaio" o
material pelo correio, por morarem fora de Lisboa.
Neste jornal cada um combinava fazer a história que lhe
apetecia e gostava mais.
As capas e contracapas em conjunto com as páginas
centrais eram impressas na «Litografia Salles» mas o interior era impresso pelo
processo tipográfico nas oficinas da União Gráfica que pertencia ao mesmo grupo
editorial, incluindo a Rádio Renascença.
O interior do jornal era preenchido com contos, novelas e
pequenas secções sempre ilustradas.
Criaram entretanto um «Concurso dos Cognomes dos Reis de
Portugal» e confiaram-me a tarefa de fazer as ilustrações.
Este concurso durou muitos meses. Fui-me «desengomando» conforme as possibilidades e os
fracos conhecimentos que tinha.
Pouco tempo depois a Helena Arroyo saiu e o Carlos
Cascais, que tinha dirigido a extinta revista «Faísca», foi preencher o seu lugar.
Durante todo o tempo da minha colaboração n’O Papagaio nunca
vi o diretor que também não interferia na sua orientação. Era apenas o
responsável perante a «censura» que exigia como garante, uma pessoa
reconhecidamente idónea e diplomada. Quem punha e dispunha era o chefe de
redação.
Ao sabor da nossa imaginação e seguindo as tendências da
época, fazíamos histórias de piratas e corsários, polícias e ladrões e aventuras
no Oeste americano, com lutas contra os índios, sem que alguma vez nos
interpelassem nem «aconselhassem» a escolher outro tema. O ambiente na redação
era agradável e simpático, numa constante troca de opiniões e sugestões.
(Continua)
No próximo artigo: NOVOS COLABORADORES
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