terça-feira, 10 de março de 2020

AS HISTÓRIAS QUE RESIDEM NA GAVETA (20) por José Ruy

Este é o último artigo de uma série que se alongou, em que tenho vindo a contar as peripécias que envolvem as histórias projetadas, algumas bastante adiantadas na sua execução, e que nunca chegaram, até agora, à «estampa».
Mas nesse limbo onde estacionam esses projetos, por vezes durante bastante tempo, lembro o livro «A Ilha do Futuro», que esteve durante seis anos nessa situação, e de repente foi publicada por dois editores, em 2004.
A história que deixei para o fim, também a última a ser guardada na «gaveta», tem uma curiosidade, embora negativa, por ser inusitado o motivo que a levou a ficar durante três anos nessa situação.
Em 2016, numa das minhas deslocações pelo país, a Festivais e eventos ligados a esta arte, fui abordado por uma Entidade para fazer em Quadrinhos a história dessa região. Precisava de ficar pronto em 2017, por se comemorar nessa altura uma efeméride.
Falei de imediato com o editor, que aceitou publicar, comprometendo-se essa Entidade em adquirir exemplares para as bibliotecas da zona.
O editor forneceu esses dados e ficou à espera de resposta.
Comecei a criar um argumento, introduzindo um pouco de ficção à História, tornando mais aliciante a leitura. De resto, como sempre faço.
Em quatro meses fiz a planificação, e forneci esboços de umas páginas, para mostrar o aspecto dos Quadrinhos, embora rudimentares.

A narrativa começa no século XV, com uma cena passada debaixo de chuva intensa, quando acontece um acidente na estrada.
Claro, que é o começo de uma narrativa cheia de ação, descrevendo a vida de pessoas reais e importantes para o país. 
A Entidade gostou do que apresentei, e delegou em alguém a tarefa de me acompanhar no decorrer do trabalho, como é hábito acontecer em iniciativas deste género. Há sempre um consultor histórico que verifica o que apresento, e com quem entro em diálogo nesse sentido. 
Agradeço sempre no próprio livro, essas ajudas. 
Mas essa pessoa nunca respondeu ao que eu ia enviando, nem deu andamento ao processo. Com esse silêncio, fiquei manietado, a ver o tempo escoar-se.
Avisei as pessoas que me haviam convidado, e dei-lhes conta do inóspito. Disseram que iam ver, mas o facto é que nada conseguiram. Fiquei a pensar tratar-se de alguém a nível muito superior à tal Entidade máxima, mas não cheguei a perceber o que se passava, pois nem uma única resposta me era dada.
A certa altura decidi enviar uma última missiva, dizendo que se não obtivesse resposta dentro de uma semana, considerava o acordo quebrado, mostrando assim que o entusiasmo com que me tinham feito o desafio, tinha esfriado, ou fora boicotado, o que tudo leva a crer.
Como, mais uma vez, não obtive qualquer resposta, enfiei a história na gaveta e não pensei mais nisso.
Passados três anos, a mesma Entidade voltou a desafiar-me.
Possivelmente, a misteriosa personagem que atirou o projeto para o cesto dos papéis, ou de outro lixo não classificado, já não estaria ativo, e agora sim, estariam reunidas as condições para avançar.
Eu acredito nas pessoas e na sua honestidade, por isso aceitei, mais uma vez, esta tarefa. Mas ainda não foi desta.
Pelo que me parece, esse ser «invisível», mas com bastante força virulenta, atacou de novo, e o silêncio caiu, mais uma vez, sobre o assunto. O que me espanta é quem parece ser a Entidade máxima, de repente é manietado por algum subalterno. Mas é o que temos. Felizmente que não são todos assim.
Como é compreensível, não divulgo nomes, pelo respeito que dedico às pessoas que demonstram tanto carinho pelo meu trabalho.
Fica aqui demonstrado que estou sempre aberto a desafios deste género, e que, mesmo com os tropeções sofridos, posso admitir recomeçar.
Porque a vida continua, e quem faz destas maquinações são seres desprezíveis, que não têm coragem de dizer «não gosto», «não estou de acordo». Escondem-se na inércia, atrás do biombo, demonstrando o maior desprezo pelo próximo.
Mas agradeço do coração todo o apoio que as tais Entidades máximas me têm dado, e que não podem ultrapassar o «querer» de quem tem, aparentemente, mais força.

Agradeço ao BDBDBlogue a oportunidade de apresentar estes desabafos, e a paciência de quem me lê aqui, e nos livros que vou fazendo.


Forte abraço
José Ruy

2 comentários:

  1. Caro José Ruy

    Indigna-me, ao ver estes esboços que são praticamente a arte final, que alguém fique indiferente e não corresponda ao trabalho que foi acordado. Indigna-me mesmo! Presumo que estes "pequenos" seres tenham a veleidade de serem maiores do que são e não façam ideia do trabalho intelectual, criativo e gráfico que um projecto deste género acarreta para o autor.
    Não esmoreça, José Ruy. A arte fica sobre todas estas críticas, que desonram apenas quem não cumpre a palavra. E caso algum subalterno claudique, se há alguém a nível superior que tolere, claudica também.
    Lamento pelos leitores que se privaram destes trabalhos. Atrevo-me, porém, a sugerir que escreva um livro sobre estas memórias e, aí, não tema em indicar o quê, quem e como, uma vez que a arte de um país está acima de alguns "invertebrados" que supõem que as obras nascem com o "enter" do computador.
    Se um dia me sai o euromilhões!...

    Um grande abraço de solidariedade.

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  2. Caro amigo Santos Costa, fico sensibilizado com a sua solidariedade. Mas como o meu amigo muito bem diz, as ações ficam com quem as pratica.
    Forte abraço de reconhecimento
    José Ruy

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