Ao abrir a gaveta onde repousam algumas histórias que não viram o brilho da publicação, surgiu-me uma que idealizei fazer por volta de 1980, «O Andarilho das Sete Partidas».
Trata-se de uma peça de teatro de autoria do escritor Romeu Correia, e publicada em livro, mas curiosamente nunca levada à cena. Nessa altura colaborava muito com a Câmara de Almada em eventos culturais, e fiz alguns com o Romeu Correia, principalmente sobre a «Peregrinação de Fernão Mendes Pinto», que realizara em Quadrinhos.
Na foto acima, uma das sessões em que estamos a palestrar. O Romeu Correia era um orador exímio e contava histórias com muita graça e interesse.
Estamos num antigo mercado da fruta e do peixe, transformado em «Oficina da Cultura», em Almada. Falamos de Fernão Mendes Pinto, por isso a decoração com barris e cordame.
Nesse espaço fiz em outra altura, com o Fausto Bordalo Dias, um evento em que desenhei uma figura do herói da Peregrinação enquanto ele tocava um dos quadros de «Por Este Rio Acima».
Mas isso é outra história.
A peça de teatro de Romeu Correia é sobre a vida de Fernão Mendes Pinto em Almada, depois do seu regresso da longa peregrinação pelo Oriente.
Com base em dados históricos, o dramaturgo descreveu em detalhe a época em que o marinheiro passou a escrito a sua vivência no Oriente durante 21 anos, numa crónica que é hoje uma obra prima da nossa literatura.
Como, entretanto, criara laços de amizade com ele, combinámos transformar em Quadrinhos esse texto. Comecei a esboçar os desenhos e a adaptar a escrita.
Os esboços foram lançados muito rudimentarmente, apenas para implantar em cada vinheta a atitude das personagens e alguma presença de elementos para criar o ambiente da época.
Apresento duas páginas, o suficiente para poderem avaliar o texto, muito bom, do Romeu Correia.
Esta história iria completar a «Peregrinação» em BD que a Meribérica acabara de publicar, e tinha interesse precisamente por isso. Mas meteram-se outros trabalhos na minha agenda, o Romeu Correia faleceu, e ainda em vida da viúva com quem me dava bem, pensámos realizar o projeto. O tempo foi passando, a própria Meribérica desativou-se e os esboços ficaram por isso mesmo, na gaveta.
Ainda hoje, quando trago à luz do dia este assunto, sinto algum entusiasmo em continuar o projeto. Daria uma boa história.
No próximo artigo mostrarei mais um argumento «encalhado» e a história que o rodeia.
Saúde, carísimo amigo José Ruy. Prazer de olhar os teus movimentados esboços, momento em que todo é possível ainda, todo fica ao dispor da sugestâo e da imaginaçô.
ResponderEliminarForte abraço e saudades para o artista e para o caríssimo Luiz Beira,
do Juan Espallardo desde o outro canto da Península Ibérica