COM QUE TIPO DE
NAVIOS OS PIRATAS
ARGELINOS
SE FAZIAM AO
ATLÂNTICO
Neste ponto da História sobre a Ilha do
Corvo que estou a desenhar é importante saber como eram os navios com que os
piratas turcos navegavam até ao arquipélago dos Açores, vindos da Argélia. Isto
para que a narrativa gráfica tenha o rigor necessário.
Na sequência da reconquista cristã na
Península Ibérica, os povos muçulmanos afastados das terras que ocupavam,
refugiaram-se no Norte de África. Alguns dedicaram-se ao corso e à pirataria atuando
no Mediterrâneo, passando depois à Costa Atlântica, atacando o continente
europeu, principalmente os arquipélagos dos Açores e da Madeira.
Um documento existente regista os resgates
de cristãos cativos no século XVII pelos frades Trinitários, e dá-nos conta do
número de escravos trazidos à liberdade, originários da Península Ibérica e do
Arquipélago dos Açores.
Enquanto que nos ataques efetuados no Mediterrâneo, e segundo a documentação iconográfica chegada até aos nossos dias,
os piratas turcos utilizavam barcos a remos, galeras e galeotas, com ajuda de
uma ou duas velas latinas, quando se lançaram no Oceano, abandonaram os remos
que até lhes dificultava a manobra na altura dos ataques e passaram a navegar
só à força do vento.
Um dos documentos é este detalhe (ver imagem abaixo) de um quadro mostrando a célebre batalha de Lepanto, que se encontra no Museu Marítimo Nacional de Londres e onde se pode ver com rigor as galeras turcas.
Outra pintura, esta de Francesco Morosini, representando a mesma batalha.
Este selo comemorativo do quarto
centenário dessa batalha é mais um documento em que podemos confiar, pois
podemos cruzar imagens de outras origens, como de livros credíveis sobre
náutica dessa época, para obtermos a confirmação do rigor histórico.
Esta gravura mostra uma galera a navegar aproveitando
o vento, com os remos levantados para facilitar a sua deslocação sobre as vagas.
Os turcos adotaram a traça das galeras e galeaças italianas e gregas, devido a alguns construtores navais se terem convertidos ao islão, ou terem sido feitos prisioneiros e obrigados a colaborar na construção desses barcos.
As iluminuras nos mapas são também uma
boa informação, pois os cartógrafos eram de uma maneira geral bons navegadores
e desenhavam muito bem os barcos da sua época que conheciam bem.
Junto
a nota que um dos meus dedicados coordenadores científicos, João Saramago, me
enviou sobre este assunto no mail que transcrevo:
«Meu amigo José Ruy
Uma observação ou, melhor, opinião quanto aos barcos: eu, pela
minha experiência, de remador das lanchas do peixe, apercebi-me da dificuldade
de articular a «remagem» em conjunto com o outro remador quando o mar estava
mais ondulado. Assim, tenho dúvidas como seria difícil trazer uma embarcação,
bem maior, para o meio do Atlântico. Isto, para não falar da logística
necessária aos remadores que, eventualmente, seriam escravos e não homens de
armas. Só em mantimentos e água seria necessário duplica-los.
Como te digo, é apenas uma opinião pessoal.
Abraço amigo para ti,
João Saramago»
Considero muito a opinião abalizada deste
colaborador amigo, como de todos os outros.
Uma das fontes que utilizo nesta pesquisa,
tem sido a obra de Björn Landeström.
Depois de troca de imagens por mail, João
Saramago enviou-me então a sua opinião mais firme:
«Quanto às galeras/naus com ou sem remos, «está decidido», o teu
conhecimento é de muita força. Coincide também com as imagens dos mapas do
século XVI e XVII, em que aparecem em certas alturas «as naus turcas sem
remos», como a imagem que junto em ANEXO».
E na nossa história em quadrinhos, os piratas estão a chegar, nestas naus, à Ilha do Corvo no dia 23 de junho de 1632, na recriação que faço desse acontecimento histórico.
Na próxima publicação desta série no
«BDBD Blogue» e por gentileza dos seus promotores, explicarei como obtive as
exclamações proferidas pelos turcos, bem como as expressões dos corvinos na
altura em que decorre esta narrativa.
Encerro este artigo partilhando convosco um interessante desenho que encontrei, uma galera turca construída graficamente
por rasgos da escrita árabe. Quanto a mim, delicioso.
Agosto de 2016
José Ruy
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