domingo, 15 de dezembro de 2013

BD E HISTÓRIA DE PORTUGAL (5) - VIRIATO

Foi longa, arrastada e cruel a tentativa de expansão e subjugação sobre os outros Povos, pelo Império Romano. E mesmo assim, jamais tal Império esteve efectiva  e definitivamente conseguido... Nessa constante desinquietação bélica, cinco líderes (todos com um fim trágico) se distinguem na luta corajosa pelos respectivos povos contra Roma: 
VIRIATO (Lusitânia), JUGURTA (Numídia), VERCINGETÓRIX (Gália), ARMÍNIO (Germânia) e DECÉBALO (Dácia). Jugurta e Vercingetórix foram assassinados em Roma, durante os respectivos tempos de cativeiro. Armínio, já libertador triunfante dos germanos, foi também assassinado, ao que parece, por ordem de seu sogro pró-romano e que o odiava. Viriato, foi vilmente morto enquanto dormia no seu acampamento. Decébalo, vendo-se definitivamente derrotado, preferiu suicidar-se a entregar-se...
E fiquemo-nos agora pelo "nosso" Viriato.
Ninguém sabe onde nasceu, nem qual o seu verdadeiro nome(?!...), pois que viriato era, para a época e o respectivo povo, um estatuto de um eleito por merecida honra e leal confiança. Eleito pelo povo, passava a usar sempre as vírias (espécie de braceletes). Mas este viriato, que passaremos a tratar como se a sua distinção fosse o seu nome, tem uma imensa e justa aura.
Valente e destemido, cumpridor da sua palavra e exemplar na sua austeridade no modo de viver, desprezava as riquezas  e as grandes comezainas (vários autores da época registaram bem o desdém que demonstrou ante a pompa do seu casamento). Exemplar até hoje, gigantesco como dirigente capaz do seu amado povo, bem próximo do exemplo de Pelópidas (da grega Tebas, segundo os escritos de Plutarco), nos dias de hoje contam mais as lendas que a realidade histórica a seu respeito.
E muito se tem escrito sobre Viriato, sempre com fantasias e conclusões românticas.
Até o francês Pierre Corneille escreveu em 1662, a tragédia "Sertorius", onde figura Viriate (Viriata), imaginada filha de Viriato!!!... 
Que ele tenha nascido na região dos Montes Hermínios (actual Serra da Estrela) não é garantido e apenas o investigador Schulten indica tal aspecto. O historiador grego Diodoro, da Sicília, citou-o assim: "Enquanto comandava, ele foi mais amado do que alguma vez alguém fora antes dele". Aliás, Viriato pertencia à nobreza lusitana e não era um simples pastor. Pastor sim, porque tal como outros nobres (não só da Lusitânia), era dono de rebanhos. De qualquer modo, nos escritos recentes, a grande obra, mais completa, pesquisada e analisada é "Viriato, a Luta pela Liberdade", de Mauricio Pastor Muñoz, sob edição Ésquilo (Obrigatório ler!).
Viriato é tão respeitado e admirado em Portugal como em Espanha, pois a Lusitânia albergava o território português até ao rio Douro e a Estremadura espanhola, e teria como capital a actual cidade de Mérida. Há famosas estátuas de Viriato em Viseu e em Zamora.
Mapa da Lusitânia
 
Estátuas de Viriato em Viseu e Zamora, respectivamente

Em 2010-2012, a vizinha Espanha realizou a série televisiva "Hispania, la Leyenda", com o actor Roberto Enriquez no papel de Viriato. Eis um tema maravilhoso que poderia resultar num espectacular filme, talvez numa coprodução luso-hispano-italiana...
Pela Banda Desenhada, é de Portugal que mais exemplos conhecemos até ao momento, pois da parte espanhola apenas sabemos de dois (mesmo assim não devidamente documentadas) e da parte belga um:

MANUEL GAGO (já falecido), fez uma versão nos anos 40 e terá criado uma nova versão que permanece inédita.
"Viriato y la Destruccion de Numancia", por Manuel Gago (Espanha)...
...e a versão que permanece inédita.

E CHUTY, numa linha vagamente humorística, criou "Viriato Contra Roma".
 "Viriato contra Roma", por Chuty

Duvidamos que não haja mais exemplos na BD espanhola...

Há também a referir o álbum "Jugurta", com argumento de JEAN-LUC VERNAL e arte gráfica de HERMANN, onde, nas pranchas 30 e 31, há uma simpática referência à acção de Viriato.

Quanto a Portugal, anotamos até agora, treze exemplos:

EUGÉNIO SILVA E PEDRO CARVALHO: "Viriato", em duas pranchas, para um livro escolar.
 
"Livro de História da 4.ª Classe" (Porto Editora, 1972), com
desenhos de Eugénio Silva e texto de Pedro Carvalho

JOSÉ GARCÊS: "Viriato", em 33 pranchas, publicado no "Cavaleiro Andante" a partir do n.º 27 (com a capa no n.º anterior). Foi muito mais tarde reeditado no já extinto semanário "Jornal de Almada".
 
"Viriato", por José Garcês (texto e desenhos),
in "Cavaleiro Andante" #27 a #60 (com anúncio de capa no #26)

JOSÉ GARCÊS: ilustrou, também, uma pequena biografia de Viriato, numa só prancha, publicada no "Camarada" #16.
"Viriato", por José Garcês, in "Camarada" #16 (1958)

JOSÉ GARCÊS E A. DO CARMO REIS: na "História de Portugal em BD", como não poderia deixar de ser, a figura de Viriato tem lugar de destaque.
Prancha de "História de Portugal em Banda Desenhada" (versão francesa)

PEDRO CASTRO: "Viriato", em 15 pranchas, no n.º 1 da colecção de fascículos "Herói".
 
Colecção de fascículos "Herói" #1 - desenhos de Pedro Castro 

JOSÉ SALOMÃO E VÍTOR BELÉM: "Viriato, o Pastor dos Montes Hermínios", álbum editado pelo jornal "O Emigrante".
 
"Viriato - o Pastor dos Montes Hermínios", por Vítor Belém (texto) e José Salomão (desenhos)

VICTOR MESQUITA: "Viriato", com 25 pranchas (capa incluída), publicado na revista "Jacto".
 
"Viriato" na revista "Jacto" - texto e desenhos de Victor Mesquita

JOÃO AMARAL E RUI CARLOS CUNHA: "A Voz dos Deuses", álbum adaptado do romance homónimo de João Aguiar, pelas edições Asa.
Capa de "A Voz dos Deuses"...
...e prancha dupla da mesma obra.

BAPTISTA MENDES: "Viriato", em uma prancha, publicada em 1963, no "Pim-Pam-Pum".
"Pim Pam Pum" (31.10.1963) - texto e desenhos de Baptista Mendes

ARTUR CORREIA E ANTÓNIO GOMES DE ALMEIDA: "Viriato", em 14 pranchas, episódio incluído no álbum "Os Super-Heróis da História de Portugal - 1", pelas edições Bertrand.
 
"Super-Heróis da História de Portugal 1" (Bertrand Editora)

ARTUR CORREIA E MANUEL PINHEIRO CHAGAS: no 1.º volume da "História Alegre de Portugal", algumas pranchas foram dedicadas a este herói.
 

"História Alegre de Portugal 1" (Bertrand Editora)

CRISÓSTOMO ALBERTO: também na linha humorística, Viriato, aparece em largo número de pranchas no álbum "No Tempo dos Lusitanos", publicado pelas Edições Asa.
 
"No Tempo dos Lusitanos" (Edições ASA) - texto e desenhos de Crisóstomo Alberto

JHION (João Amaral) E GUS PETERSON (José Pires): "O Demónio Ruivo", 1.º episódio de "Guerras de Fogo", que se mantém inédito até hoje, aguardando que uma editora mostre interesse pela sua publicação. 
"O Demónio Ruivo", 1.º episódio de "Guerras de Fogo" (inédito)
Texto de Gus Peterson (José Pires) e desenhos de Jhion (João Amaral)   


Haverá mais?... Já é tanto, mas mesmo assim tão pouco, por este fabuloso herói da nossa História. É que as raízes da independência e da liberdade, sobretudo de Portugal, actuaram logo não com o tão respeitável Dom Afonso Henriques, mas sim com o valoroso e ilustre Viriato.
LB

9 comentários:

  1. Onde poderei encontrar os álbuns do Victor Mesquita e do José Salomão?

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    1. Caro Manuel Morgado
      O "Viriato" por Victor Mesquita foi publicado na extinta revista "Jacto" e nunca saiu em álbum. O "Viriato" pelo José Salomão saiu directamente em álbum, hoje muito difícil de ser encontrado, mas... com um pouco de sorte, talvez o encontre em algum alfarrabista.
      Saudações bedéfilas
      Luiz Beira

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  2. A história de Jugurtha & Viriato foi publicada no Mundo de Aventuras (1980) #353.

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    1. Caro Amigo
      Muito grato pelo seu comentário sobre o “Jugurta” no “Mundo de Aventuras”.
      Saudações bedéfilas
      Luiz Beira

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  3. A "lusitânia" de que fala, não era A Lusitânia, mas sim a divisão administrativa Romana, portanto , artificial, com o objectivo político de retirar O Centro da Fôrça Lusa do LUgar onde deveria estar (Montes Hermínios), sempre estêve e estará, "levando-o" para mais perto do seu(romano)centro de podêr político, do lado "espanhol".

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  4. Magnífico o v trabalho
    citei-vos em https://turmadofelicio.blogspot.com/
    obrigado

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    1. Muito obrigado, José.
      Saudações bedéfilas.
      Carlos Rico

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  5. «...e "teria" como capital a actual cidade de Mérida. ...»

    Diz bem, TERIA, porque não têve. Mérida era a Capital ROMÂNA duma "lusitânia" inventada administrativamente, retirando-lhe tôda Fôrça que Tinha Demonstrado durante o Tempo em que os Romanos levaram tareias monumentais , e que nunca conseguiram conquistar, a não sêr por uma Vergonhosa Traição, algo em que eram mestres.

    A "lusitânia" de que fala, não era A Lusitânia, mas sim a divisão administrativa Romana, portanto , artificial, com o objectivo político de retirar O Centro da Fôrça Lusa do LUgar onde deveria estar (Montes Hermínios), sempre estêve e estará, "levando-o" para mais perto do seu(romano)centro de podêr político, do lado "espanhol".
    Essa é a verdade Histórica da qual parece não gostar , uma vez que nunca me respondeu, nem que fôsse por amabilidade...

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    1. Caro Rogério Maciel
      Muito obrigado pelo seu (segundo) comentário sobre o Viriato. Informo que nem sempre estou disponível para marcar respostas, outras vezes o tempo afasta-me de tal ideia... Acontece!
      Ninguém sabe nem saberá onde ele nasceu e qual o seu verdadeiro nome. Muitas e muitas fantasias se têm escrito sobre ele, consoante a vertigem de cada mente. De certo modo, nessa infindável panóplia de textos, para além do aceitável romance "A Voz dos Deuses" de João Aguiar (e em Banda Desenhada pelo João Amaral), a obra mais completa e credível, será "Viriato, a Luta Pela Liberdade" de Mauricio Pastor Muñoz. Numa linha mais folclórico-lendária, há biografias de Viriato em "Príncipes de Portugal, Suas Grandezas e Misérias" de Aquilino Ribeiro e "Heróis de Portugal" de Pedro Marta Soares.
      De qualquer modo, os Montes Hermínios jamais foram o quartel-general de Viriato e as suas tribos unidas. E a famosa Cava de Viriato em Viseu, é uma conveniente fantasia (ler a Edição Especial nº 10 da revista National
      Geographic, focando "Grandes Enigmas").
      Mérida como capital de uma Lusitânia "made in Império Romano", é apenas um pormenor de circunstância.
      Saudações histórico-bedéfilas
      Luiz Beira

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