JOE KUBERT (1926-2012)
Nasceu na Polónia mas cedo emigrou para os Estados Unidos onde se tornou num dos maiores autores de histórias em quadradinhos. Foi assistente de Jack Kirby apenas com 16 anos! Depois, o seu espantoso talento espraiou-se por temas muito variados em séries como "Sargent Rock", "Tor", "Enemy Ice", "Flash", "Hawkman", "Tales of the Green Beret" ou "Tarzan" (estas duas últimas foram parcialmente publicadas no nosso "Mundo de Aventuras"). Desenhou também para a colecção "Tex Gigante" uma das melhores histórias deste personagem: "O Cavaleiro Solitário". Criou com a sua esposa Muriel, em 1976, a "Joe Kubert School of Cartooning and Graphics", ainda hoje uma referência entre as escolas de Arte americanas.
Pranchas de "Cabelos de Fogo" |
Pranchas de "Tarzan", que Kubert desenhou magistralmente |
WALTER BOOTH (1889-1971)
Inglês, nascido em Walthamstow, foi autor de duas das mais populares séries publicadas em Portugal: "Rob the Rover" (conhecida entre nós como "Pelo Mundo Fora" e tida como a primeira banda desenhada não humorística) e "Captain Moonlight" ("Capitão Meia-Noite", na versão portuguesa). Sendo um autor com obra notoriamente "datada" (com legendas didascálicas, por exemplo) os seus magníficos desenhos, cheios de pormenor, continuam a fascinar-nos. Recentemente, o nosso José Pires encetou uma autêntica odisseia, restaurando prancha a prancha e publicando, em vários volumes, as duas séries. Uma excelente forma, afinal, de homenagear a obra deste grande mestre da banda desenhada a preto e branco.
Prancha 1 de "Capitão Meia-Noite", restaurada por José Pires |
Prancha 12 de "Rob the Rover", igualmente restaurada por José Pires |
FRED HARMANN (1902-1982)
Norte-americano, foi ilustrador e editor de revistas e, também, um notável pintor de temática western. Chegou a pertencer aos estúdios de animação de Walt Disney, em Kansas City, mas foi na banda desenhada que teve o reconhecimento merecido ao desenhar durante um quarto de século(!) a série "Red Ryder" (que criou em parceria com o argumentista Stephen Slesinger). Alguns episódios de Red Ryder foram publicados no nosso "Mundo de Aventuras" com êxito assinalável. Em Pagosa Springs (Colorado) o Fred Harmann Art Museum continua a perpetuar a obra deste autor.
Vinheta de "Red Ryder" |
A primeira tira de "Red Ryder", publicada a 6 de Novembro de 1938 |
Nota: A rubrica "A BD a Preto e Branco" será subdividida entre as escolhas pessoais de Luiz Beira (10 posts e 30 autores) e de Carlos Rico (idem), num total de 60 autores! As duas imagens que ilustram a obra de cada autor foram criteriosamente escolhidas por Luiz Beira e Carlos Rico e por esta ordem serão sempre apresentadas.
Excelente, esta selecção de grandes mestres dos quadradinhos que se notabilizaram também na BD a preto e branco. Destaco a referência, muito a propósito, ao pioneiro Walter Booth, um nome frequentemente esquecido, mas ao qual as reedições em fanzine de José Pires têm prestado justa homenagem.
ResponderEliminarQuanto a Joe Kubert, um dos artistas que no seu género mais admiro, recordo que alguns episódios da sua série Firehair (Cabelos de Fogo) foram também publicados no "Mundo de Aventuras" (anos 80).
Um grande abraço e continuação do bom trabalho.
Jorge Magalhães
Caro Amigo Jorge Magalhães:
EliminarO Pires tem feito, realmente, um trabalho notável na recuperação das pranchas de Walter Booth e merecia, sem qualquer dúvida, uma referência.
Quanto ao Kubert, é também um dos autores que mais admiro, não só porque desenhava muitíssimo bem como também porque sabia combinar magistralmente a mancha a preto com o branco do papel (o que, aliás, é uma condição essencial para se ser incluído nesta nossa listagem de autores). Para além de que era um autor muito versátil, trabalhando em temas muito diferentes como o western, a guerra, os super-heróis, a Pré-História... Enfim, um autêntico génio que, infelizmente, nos deixou há pouco tempo.
Não sabia que o Mundo de Aventuras tinha publicado o "Firehair". Muito obrigado por essa informação e também pelo seu comentário.
Grande abraço
Carlos Rico
Caro Amigo Carlos Rico,
ResponderEliminarEstou inteiramente de acordo consigo na avaliação do talento e da arte de Joe Kubert, cujo trabalho em Tarzan, apesar de publicado a cores, é um dos melhores exemplos da sua mestria no jogo do preto e branco. Quanto a mim, esta versão do rei das selvas ultrapassa até a de Hal Foster e é muito mais realista do que a de Burne Hogarth.
Recordo-me de que no "Mundo de Aventuras" foram publicados também dois episódios de Big Ben Bolt, em tiras diárias, desenhados por Kubert, em substituição de Carlos Garzón. Apesar de breve, a sua passagem por essa série revolucionou completamente a dinâmica das tiras diárias. Vale a pena ler e admirar esses dois episódios de Ben Bolt (celebrizado com o nome de Luís Euripo noutras versões portuguesas).
Na última etapa do MA, como já referi, foram publicados alguns episódios de Firehair, outra excelente série de Kubert, que me seduziu quando a li pela primeira vez na revista brasileira "Tomahawk", da Ebal. Só tenho pena de não ter conseguido publicar também no MA o Enemy Ace, fantástica série de aviação de que Kubert realizou vários episódios. Mas tenho-a completa numa edição francesa a preto e branco, já com uns bons anitos, que comprei num "bouquiniste" parisiense. Bons tempos e boas recordações!
Um grande abraço,
Jorge Magalhães
Caro Jorge:
EliminarJá vi alguns episódios a cores do Tarzan desenhados por Kubert. E escuso de lhe dizer que o resultado é catastrófico! Aplicar cor num trabalho que foi pensado e projectado para ser a preto e branco é, provavelmente, mais grave, até, do que fazer o contrário, isto é, publicar a preto e branco um trabalho que foi "pensado" a cores.
Mas este não é caso único, como sabe. Lembro-me bem que na revista "Selecções BD" (onde o Jorge era, salvo erro, chefe de redacção na altura), alguns episódios de Torpedo 1936 foram publicados a cores, o que me chateou imenso. Sabendo eu do rigor e da competência que o Jorge coloca nos seus trabalhos, acredito que esse tenha sido para si um "sapo" bem duro de engolir :)
Concordo quando diz que o Tarzan de Kubert é superior ao de Foster. Já quanto ao Tarzan de Hogarth a coisa é mais equilibrada pois tratam-se de duas versões de grande nível.
Não sabia que o Big Ben Bolt tinha sido desenhada pelo Kubert e fiquei curioso de ver algumas tiras. Mas acredito que o Kubert tenha feito um excelente trabalho. Até porque não lhe conheço trabalhos maus.
Já agora, posso também fazer-lhe um pouquinho de inveja (ou se calhar não) dizendo-lhe que tenho uma edição italiana de "Tales of the Green Beret", a preto e branco, que encomendei à ANAFI e que recomendo vivamente: bom número de páginas, em papel couché, formato "italiano" e com alguns textos de apoio muito interessantes.
Grande abraço
Carlos Rico
Caro Amigo Carlos Rico,
ResponderEliminarProsseguindo esta amena e interessante conversa, sobre Kubert, o Tarzan e outros tópicos, devo esclarecer que também admiro muitíssimo o trabalho de Burne Hogarth, mas considero que, em termos realistas, Kubert lhe leva a palma, pois o estilo de Hogarth tendia a atingir o surrealismo, sobretudo na época do seu maior apogeu.
A série Tarzan da DC foi publicada, como sabe, em "comic books", portanto a cores, mas quando a adquiri para o "Mundo de Aventuras" é óbvio que tinha de aparecer a preto e branco, dando assim mais realce ainda ao soberbo traço do Kubert. Em 1976, se bem me lembro, tivemos a visita, na Agência Portuguesa de Revistas, de um alto representante da Edgar Rice Burroughs Inc., que se fartou de elogiar a impressão da série a preto e branco, afirmando que nem mesmo noutros países, como a Holanda, ela era publicada com tanto realce como no MA. Por acaso, nessa altura, a revista até era bem impressa, embora o papel não fosse da melhor qualidade...
Kubert, que, de facto, só sabia desenhar genialmente, fez um excelente trabalho nos dois episódios (ou melhor, episódio e meio) que realizou do Big Ben Bolt, como poderá ver, se os tiver, nos MA nºs 267 e 280 da 2ª série. Sou capaz, um dia destes, de ressuscitar no "Gato Alfarrabista" esses episódios e os que se lhes seguiram, desenhados por Gray Morrow e Neal Adams, até ao insólito desfecho da série, que acabou com o assassinato de Ben Bolt nas Nações Unidas!
Quanto ao Torpedo, que, como deve estar lembrado, surgiu pela primeira vez noutra revista que coordenei, "O Mosquito" da Editorial Futura, foi publicado a cores nas "Selecções BD" sobretudo por insistência dos leitores. Por outro lado, como em França tinham começado a sair álbuns da série coloridos, tornou-se cada vez mais difícil obter novo material a preto e branco. Na verdade, Torpedo é o exemplo paradigmático de uma série que, de início, tinha sido projectada a preto e branco, mas que, mais tarde, devido ao seu grande êxito em muitos países da Europa, e até nos Estados Unidos da América, obrigou os editores e os autores a mudarem de "agulha", começando a publicá-la só a cores. No entanto, creio que nas "Selecções BD" (2ª série), que coordenei até ao fim, a maior parte dos episódios saiu a preto e branco.
Dos "Tales of the Green Beret" só tenho dois ou três volumes de uma antologia americana, cuja qualidade deve ser muito inferior à dessa edição da ANAFI. Por isso, fez-me inveja, sim senhor, amigo Carlos... porque os italianos, quando querem, são mesmo os maiores!
Um grande abraço do
Jorge Magalhães
Amigo Jorge:
EliminarInteressante sem dúvidas esta troca de opiniões onde o que sobressai é, no essencial, a mútua admiração que temos pela obra de Kubert.
Quanto ao Hogarth, é claro que o seu traço tem muitas diferenças em relação ao de Kubert mas, cada um deles, à sua maneira, deixaram uma marca indelével em Tarzan que os catapulta, sem dúvidas, para o pódio dos melhores desenhadores do personagem.
O facto de Tarzan ter sido publicado a cores nos EUA não significa que tenha sido a melhor aposta por parte da editora. O Jorge (e muito bem) achou melhor publicar a preto e branco e o resultado foi que até o representante da Edgar Rice Burroughs, Inc. concordou que era a melhor opção. O problema (e corrija-me se estou enganado) é que o público americano (e de uma maneira geral, todo o público mais jovem) está habituado a ler BD a cores e não é fácil mudar essa mentalidade. E como o que conta são os números...
Mesmo assim, estranho que os autores de Torpedo 1936 (em especial o seu desenhador, Bernet) tenham concordado em publicar esta série a cores quando ela está "talhada" para ser apreciada em pb. A cor ali, só atrapalha. Eu percebo que as "Selecções BD" tenham optado por publicar alguns episódios a cores pelas razões que explica mas... e os leitores que preferiam a série a pb? Porque não foram tomados em conta? Não acha que a vontade de procurar atrair novos leitores poderá, em contrapartida, fazer perder muitos outros? Possivelmente estou a exagerar mas para mim, pelo menos, não tem o mesmo encanto ler Torpedo 1936, Corto Maltese, Tex ou The Phantom a cores. Para mim, só tem sentido ler estes personagens em pb. E isso, por vezes, poderá fazer toda a diferença entre eu comprar ou não uma revista ou um álbum.
Quanto ao Big Ben Bolt, aguardarei ansiosamente pela publicação dessas tiras no "Gato Alfarrabista" onde o Jorge e a Catherine continuam a dar cartas!
Um grande abraço
Carlos Rico