quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

HERÓIS INESQUECÍVEIS (22) - TED KIRK

Curiosamente, este herói-BD "nasceu" em Portugal, mas é "estrangeiro". 
Com textos  de Raúl Correia, o nosso saudoso Vítor Péon (1923-1991), ousou em boa hora e quebrou a arrastada linha de narrativas infantis e/ou juvenis , criando uma BD para adultos, com o herói TED KIRK.
Ele é um detective corajoso, inserido na aventura realista, violenta, bem na linha dura dos enredos policiais de além-Atlântico. O que se pode indicar como "o romance negro".
A primeira aventura, que já é um incontestável clássico da Banda Desenhada Portuguesa, foi "A Casa da Azenha", que se iniciou em "O Mosquito" n.º 1027, a 27 de Abril de 1949, terminando no n.º 1085, a 16 de Novembro desse mesmo ano. Foi logo um êxito pleno!
 

Vinheta de "A Casa da Azenha" onde se observam
pormenores surrealistas...
Esta aventura tem um pormenor curioso que A. Dias de Deus citou: "O desenhador chega mesmo a tentar uma incursão pelo campo do surrealismo, na fabulosa sequência do sonho".
Muitos anos volvidos, "A Casa da Azenha" foi reeditada em álbum pela Asa (então sediada no Porto), onde foram aplicadas cores às pranchas. Mesmo assim, ao que consta, o álbum com esta primeira aventura de Ted Kirk, está esgotado.
A segunda narrativa com este herói, "Tormenta", iniciou-se em "O Mosquito" n.º 1086, a 19 de Novembro de 1949 e terminou no n.º 1186, a 17 de Junho de 1950. Mas a sua publicação foi acidentada pois, volta não volta, a narrativa era interrompida... No entanto, uma história bem escaldante como sugere o título.

Em 2001, o Grupo Bedéfilo Sobredense (GBS), reeditou esta narrativa no seu "Cadernos SobredaBD" n.º 16, com uma capa deslavada e onde, por estranho desleixo, falhou a 21.ª prancha (!!).
Para tristeza imensa dos bedéfilos, pelo menos dos entusiastas desse tempo, as aventuras de Ted Kirk limitaram-se apenas a estas duas histórias: "A Casa da Azenha" e "Tormenta".
Seria de correctíssimo gesto que alguma das nossas editoras-BD (ainda existem?!) apostasse num álbum integral das aventuras de Ted Kirk, mas agora numa esmerada edição.
LB

"A Casa da Azenha" (Edições Asa)
"O Mosquito", n.º 1086 (19 de Novembro de 1949)
"O Mosquito", n.º 1141 (31 de Maio de 1950)
"O Mosquito", n.º 1145 (14 de Junho de 1950)

4 comentários:

  1. A casa da azenha representa, em termos de argumento, um corte com o que se fazia na BD portuguesa. Consigo imaginar o espanto e o entusiasmo dos jovens leitroes de O Mosquito, em 1949, a cruzarem-se com uma história totalmente diferente do que estavam habituados. Sem dúvida que é um trabalho marcante na bd portuguesa e não sei se não terá algum pioneirismo no continente europeu. Excluo a Inglaterra, onde pelo menos Buck Ryan tinha argumentos que se assemelhavam.
    Em relação ao post de referir que A casa da azenha também foi publicada no Jornal do Cuto, que é a edição onde eu ali.

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    1. Caro amigo
      Muito grato pelos seus esclarecimentos. Quanto ao "Jornal do Cuto", confesso que foi revista que não acompanhei. Numa época em que abundavam revistas portuguesas, espanholas e francófonas, algumas "tentações" foram sacrificadas, e nestas, aconteceu isso com a revista que indica.
      Um abraço
      Luiz Beira

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  2. Já agora, quero frisar a importância dos textos de Raul Correia, director e fundador d'O Mosquito – que, nessa época, já não estava associado a Cardoso Lopes –, num estilo tão duro e violento como o dos desenhos, cuja inspiração veio indubitavelmente da "novela negra" americana e de autores como Chandler e Spillane. Até a narração era feita na 1ª pessoa e o papel reservado à "femme fatale" revelava-se também, no final, um jogo imprevisível em que o leitor mergulhava de surpresa em surpresa (como, aliás, sugeria a sequência do sonho).
    Quanto ao álbum da Asa, as cores foram dadas pela Catherine Labey, porque o editor assim o entendeu, por razões comerciais, preferindo-as ao preto e branco (numa opção discutível) e à monocromia d'O Mosquito, que, no meu entender, em nada beneficiou o excelente trabalho de Vitor Péon. Esta era também a sua história preferida... e recordemos que teve uma produção enorme, avassaladora, tanto em Portugal como no estrangeiro.

    Um abraço do
    Jorge Magalhães

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    1. Caro Jorge
      Muito obrigado por estas tuas informações complementares.
      Um grande abraço
      Luiz Beira

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