Um corpo franzino, um nariz proeminente apoiado num largo bigode e uma voz rouca faziam de Geraldes Lino uma figura inesquecível no meio bedéfilo.
A sua presença constante em iniciativas que girassem à volta da BD; o incentivo genuíno com que brindava os autores mais novos; a defesa acérrima do uso correcto da língua portuguesa; o amor pelos fanzines (que coleccionava fanaticamente)... eram características que o tornavam, sem dúvida, na mais popular e consensual figura da BD portuguesa.
E contudo, não me lembro ao certo quando nos conhecemos. Mas terá sido, quase de certeza, nas primeiras Jornadas BD da Sobreda que visitei, em 1992, pois o Lino não falhava, de facto, nenhum salão, tertúlia, encontro ou exposição.
Onde houvesse BD, aí estava o Lino, incansável, cheio de projectos, sempre com caneta e papel para anotar os contactos de novos autores (que, invariavelmente, convidava para a sua Tertúlia BD de Lisboa...) e alguns fanzines debaixo do braço, para trocar ou oferecer aos amigos. Ou não fosse ele "militante da BD e dos fanzines", como se auto-intitulava, com orgulho...
Encontrámo-nos várias vezes na Sobreda, mas também na Amadora, Lisboa, Viseu, Beja e, obviamente, em Moura, que o Lino visitava sempre que ocorria o salão BD.
Ainda recordo os incentivos e recomendações que me dava, de forma acertiva, para melhorar o meu trabalho, enquanto autor mas, muito especialmente, enquanto coordenador do salão.
Encontrámo-nos várias vezes na Sobreda, mas também na Amadora, Lisboa, Viseu, Beja e, obviamente, em Moura, que o Lino visitava sempre que ocorria o salão BD.
Ainda recordo os incentivos e recomendações que me dava, de forma acertiva, para melhorar o meu trabalho, enquanto autor mas, muito especialmente, enquanto coordenador do salão.
Por exemplo, dizia-me ele discretamente e após assistir a uma entrega de
prémios, que numa cerimónia como aquela a figura institucional
mais importante (no caso o Presidente da Câmara) não deveria entrar e sair
muitas vezes do palco para não retirar impacto à sua presença. Deveria entrar uma única
vez e já na parte final (onde remataria o evento com um breve
discurso).
Essa subtil chamada de atenção foi suficiente para que, a partir dessa altura,
passássemos a ter um cuidado maior com a preparação de toda a cerimónia.
O Lino dava muito valor ao Moura BD. Estava sempre a dizer-me que, com poucos meios, conseguíamos fazer muita coisa. Mas não se coibia de criticar - de maneira construtiva - aquilo que não estivesse bem.
O Lino dava muito valor ao Moura BD. Estava sempre a dizer-me que, com poucos meios, conseguíamos fazer muita coisa. Mas não se coibia de criticar - de maneira construtiva - aquilo que não estivesse bem.
Entre o jantar e a recolha ao Hotel, havia lugar para
pormos a conversa em dia no Bar do Castelo, onde o Lino gostava de tomar umas
cervejas e comer uma tosta mista (as melhores tostas mistas, segundo ele dizia,
por serem feitas com pão alentejano).
As visitas do Lino ao salão Moura BD coincidiam sempre com as entregas de prémios e troféus, que aconteciam a um sábado. No domingo, o programa era livre e eu aproveitava para levar a almoçar a Pias os convidados que tinham pernoitado em Moura, de modo a prolongar mais umas horas o convívio entre todos.
Depois, cada um seguia o seu destino em carro próprio ou à boleia, menos o Lino que, por ter vindo de comboio, muitas vezes não conseguia um lugar vago em nenhum veículo. Nessa altura eu oferecia-me para o levar até à Estação de Beja, aproveitando, assim, mais uma hora de animada e reconfortante conversa...
O Lino foi homenageado, com toda a justiça, no Moura BD, em 2001, onde lhe foi outorgado o "Troféu Balanito Especial" pelo notável contributo que deu para a divulgação da 9.ª Arte.
O seu desaparecimento deixa um vazio impossível de preencher nos nossos corações. Mas o seu legado perdurará, para sempre, na História da BD portuguesa.
O Lino foi homenageado, com toda a justiça, no Moura BD, em 2001, onde lhe foi outorgado o "Troféu Balanito Especial" pelo notável contributo que deu para a divulgação da 9.ª Arte.
O seu desaparecimento deixa um vazio impossível de preencher nos nossos corações. Mas o seu legado perdurará, para sempre, na História da BD portuguesa.
Com Francisco Espada, Finha e Carlos Rico, durante o salão Moura BD 2001
|
Com Rá, Paula Pina, Isabel Lobinho, o esposo desta e Carlos Rico, numa esplanada, em Moura (2002) |
Com Rui Pimentel, durante a sessão de homenagens do salão Moura BD 2004 |
Com Arlindo Fagundes, após a homenagem a Luiz Beira em Viseu (2017) |
Não tenho dúvidas de que iremos todos - sejamos ou não alentejanos - cumprir a sua vontade e prosseguir esta contínua luta pela divulgação da BD, honrando, assim, a sua memória.
Até sempre, Lino! Descansa bem!
CR
Sem comentários:
Enviar um comentário