Carlos Carcassa |
Damos hoje a conhecer aos nossos leitores um autor português (essencialmente de tiras e cartunes), cujo trabalho descobrimos, por acaso, enquanto navegávamos pela net, mas que nos chamou a atenção pela irreverência do seu humor.
Trata-se de
Carlos Carcassa, cartunista conimbricense, de quem já aqui apresentámos a sua
página de Facebook "Cabeça de
Atum Comix", na rubrica "Séries de Tiras BD".
Vamos,
então, à entrevista que nos concedeu, onde a sua irreverência também está bem vincada em quase todas as respostas.
BDBD
BDBD - Pode dizer-nos, em breves palavras, quem é o autor Carlos
Carcassa: percurso como autor, projectos que desenvolve (na área da BD e do
Cartune), álbuns publicados (se os tiver), prémios que ganhou, exposições,
etc...
Carlos Carcassa (CC) - O Carlos Carcassa é um jovem na casa dos trinta
anos, mas com mentalidade de quinze, nascido em Coimbra. Desenha tiras desde os
14/15 anos, embora só há pouco tempo tenha começado a publicar as suas
imbecilidades em forma de tiras e cartunes, nas redes sociais. O seu percurso
como autor é quase nulo, pois quase sempre desenhou só para si, e por prazer.
Nunca ganhou nenhum prémio e nem acha que mereça.
BDBD - Bem,
é a sua opinião, com a qual não estamos obviamente de acordo, caso contrário
não estaríamos aqui a entrevista-lo... :) Porquê essa visão tão negativa sobre
si próprio e sobre aquilo que faz? Não acredita, verdadeiramente, que haja
leitores que gostem do seu trabalho?
CC - Falando um pouco mais a sério, o meu trabalho é, em si, um
pouco a visão que tenho de mim e do mundo (o mundo que me desculpe), e é essa
visão que me inspira. Já tentei fazer coisas um pouco mais ''limpas'', mas
nunca senti que estava a ser honesto comigo mesmo, e isso é algo que me
desmotiva. A minha mente é um pouco poluída e revoltada, e não posso fugir a
esse facto.
Sim, há algumas pessoas que seguem o meu trabalho, o que me deixa bastante feliz e até me dá alguma motivação. Porém, eu continuaria a desenhar mesmo que ninguém me demonstrasse algum tipo de feedback, como aconteceu durante anos em que deixava as coisas na gaveta. Faço isto por prazer, e é também uma maneira de desabafar e limpar a cabeça.
Sim, há algumas pessoas que seguem o meu trabalho, o que me deixa bastante feliz e até me dá alguma motivação. Porém, eu continuaria a desenhar mesmo que ninguém me demonstrasse algum tipo de feedback, como aconteceu durante anos em que deixava as coisas na gaveta. Faço isto por prazer, e é também uma maneira de desabafar e limpar a cabeça.
CC - A página de Facebook ''Cabeça de Atum Comix'' surgiu no
início de 2017, com a intenção de lá publicar tiras, cartunes e desenhos que
vou fazendo. ''Cabeça de atum'' era um nome que por vezes a minha mãe me
chamava em desespero, quando eu era adolescente, devido à minha indolência em
relação a quase tudo o que ela achava importante para mim. Mais tarde, descobri
da pior maneira que ela tinha razão em chamar-me isso.
BDBD - Onde
foi publicado? Apenas na net ou também em papel?
CC - As minhas tiras são publicadas por mim, com alguma regularidade, nas
redes sociais (Facebook- Cabeça de Atum Comix) e (Instagram-
@carcassa_carlos). No papel, há uns meses recebi um convite de uma nova revista
colaborativa de arte e banda desenhada independente brasileira, chamada ''Pé-de-Cabra'',
para enviar algo para eles, o que me deixou muito feliz. Mais feliz fiquei ao
saber que uma tira minha tinha sido mesmo publicada na revista, ao lado de
trabalhos de mais de cinquenta artistas fabulosos, alguns que até já conhecia e
admirava (e admiro) imenso. Aconselho a quem gosta de arte underground e
de contracultura a dar uma vista de olhos nessa revista, não pelo meu trabalho,
mas pelo trabalho dos outros artistas a sério que lá estão. Também publiquei
mais recentemente, num fanzine português muito bonito, que circula no meio
metaleiro, cujo nome não vou pronunciar, porque isto é um blogue de respeito - o
editor que me desculpe. (risos)
BDBD - Tem consciência de que, quer a linguagem (escrita ou gráfica), quer
os temas que escolhe, podem ser interpretados como irreverentes (para não dizer
de outra forma) por alguns (ou muitos) leitores. Tendo em conta que o
"politicamente correcto" é algo que está na moda, o que o leva a
remar no sentido contrário?
CC - Tenho plena consciência de que alguns temas que escolho podem ser
considerados politicamente incorretos por muitas pessoas. Com os meus desenhos,
tento apenas fazer um tipo humor (chamem-lhe irreverente, sarcástico,
deprimente, idiota, sem graça nenhuma, o que quiserem), que, se tiver que
passar pelo que é considerado politicamente incorreto, então que passe. Não
pretendo desenhar aquilo que as pessoas querem ver, mas sim o que me apetece
desenhar, e se houver alguém que goste, então, perfeito. Posso ser só eu,
mas acho fascinante a maneira como as pessoas ficam ofendidas com um simples
desenho tosco e idiota. E também acho sinceramente que quando algum tipo de
arte consegue ofender alguém é porque teve também, de certa maneira, o mérito
de pôr a cabeça dessas pessoas a raciocinar, e isso é a principal função da
arte, quanto a mim.
CC – Surpreendentemente, ainda nenhuma tira ou desenho meus foram
apagados pelo próprio Facebook, o que também pode ser sinal da
irrelevância que têm para as pessoas. Mas já fui bastante maltratado em
comentários e até banido de alguns grupos de Facebook, devido ao
conteúdo de algumas tiras que lá publiquei, o que me deixou muito feliz.
BDBD - Dentro dessa linha underground que prefere, há
algum autor português que também admire?
CC - Os meus autores favoritos são, na sua maioria, brasileiros e
norte-americanos, mas tenho admiração por alguns portugueses que têm algumas
coisas nessa linha, como são os casos do João Fazenda, do Luís Louro e do Nuno
Saraiva, dos quais tenho alguns álbuns, embora sejam autores que já não sigo há
algum tempo.
BDBD - O seu
personagem mais conhecido (não sei se é ele que se chama Cabeça de Atum Comix,
ou se é a série - ou até se são ambos) é inspirado em si. Porquê?
CC - ''Cabeça de Atum Comix'' é o nome da minha página de Facebook.
Carcassa é o nome do personagem da maior parte das minhas tiras, (embora refira
o nome dele em poucas) que sim, é um personagem um pouco inspirado em mim, e
também é o nome com que eu assino, e daí a sua confusão. Acho que é mais fácil
atribuir uma personalidade a um boneco que seja baseado em nós, do que criar-lhe
uma personalidade a partir do zero. Claro que já criei outros bonecos com
personalidades diferentes, mas que não desenvolvi tanto porque, a certo ponto,
falta-me assunto para atribuir ao personagem. Quando o personagem é baseado em
nós, acho que se torna mais fácil encontrar assunto para desenhar, sem
desvirtuar o personagem.
BDBD - Que projectos tem entre mãos neste momento?
CC - Não sou de fazer grandes projetos. A única coisa que pretendo é ir
publicando as minhas tiras na internet, e se houver quem goste, então já é
muito bom para mim. Claro que fico sempre muito feliz quando alguém demonstra
interesse em publicar o meu trabalho nos seus fanzines ou revistas, como já
aconteceu. Ver o seu trabalho publicado no papel, acho que é o sonho de
qualquer autor.
BDBD - Como
antevê o futuro da banda desenhada?
CC - Acho que o futuro da BD está assegurado, em termos de qualidade e
quantidade, pois hoje em dia é muito mais fácil para os novos autores
divulgarem o seu trabalho, o que permite ao público ter muitas coisas por onde
escolher. O que não acho que esteja assegurado é o futuro dos próprios autores,
pois, devido ao surgimento de tantas coisas novas, nem todos irão conseguir
viver da sua arte, e muitos serão esquecidos (justamente ou injustamente,
depende do ponto de vista). Quanto a mim, o futuro irá passar cada vez mais
pelas edições independentes, porque felizmente, hoje em dia, existem diversas
plataformas de financiamento coletivo, o que permite aos autores saberem em
tempo real se o seu trabalho tem aceitação ou não, e assim irem publicando,
pelo menos sem terem prejuízo.
Hungry Birds no papel de terroristas... |
O Super-Juiz, Carlos Alexandre |
Schroeder a brincar com o Euro(?) |
Boa descoberta do BDBD, a deste Carcassa!
ResponderEliminarAmigo Geraldes Lino,
EliminarO Carlos Carcassa é, de facto, um autor diferente que não poderíamos deixar de divulgar, a partir do momento em que nos demos conta do seu trabalho. A merecer - digo eu - uma ida à Tertúlia BD de Lisboa...
Grande abraço e obrigado pelo teu comentário.
Carlos Rico
Gosto do humor e dos desenhos.
ResponderEliminarCarlos oliveira