quinta-feira, 16 de março de 2017

DE ACTORES A HERÓIS DE PAPEL (14) - NORMAN WISDOM

Norman Wisdom (1915-2010)
Admirável actor inglês, através dos seus inúmeros filmes, brindou-nos com hilariantes prestações à 7.ª Arte, pela sua comicidade e pela sua genica, tão cheias de trapalhadas e astúcias, sobretudo nas décadas dos anos 50, 60 e 70.
Para além de actor, também foi cantor e autor de letras para canções.
Norman Wisdom, de seu nome completo Norman Joseph Wisdom, nasceu em Londres a 4 de Fevereiro de 1915 e faleceu em Ballasalla (Ilha de Man) a 4 de Outubro de 2010. Cinco anos antes, pelos seus 90, retirou-se da carreira artística dada a já marcante deterioração da sua saúde.
A sua infância e adolescência não foram nada felizes, nem para ele nem para a sua família. Ocupou-se de alguns trabalhos menores e também deu a sua participação ao exército inglês durante a 2.ª Grande Guerra.
É aos 31 anos de idade que inicia a sua carreira artística. E foi, degrau a degrau, uma subida de popularidade e glórias. O grande Charlie “Charlot” Chaplin desabafou um dia que Norman Wisdom era o seu “clown” (palhaço) favorito.
Teve séries na Televisão e várias vezes pisou o palco, incluindo por terras da Austrália e da República Sul-Africana. Famoso também na América do Sul, os seus filmes foram os únicos do mundo ocidental que foram permitidos na Albânia, então sob a ditadura comunista de Enver Hoxha.
O seu primeiro filme foi “Date With a Dream” em 1948, e os seus últimos, foram as séries-tv “Coronation Street” (2004), “Last of the Summer Wine” (1995-2004) e a curta-metragem “Expresso” (2007).
Norman Wisdom ladeado por Stan Laurel (Estica)
e Oliver Hardy (Bucha)
Criou o seu próprio (e quase constante) personagem, Norman Pitkin.
Principais películas da sua carreira: “O Homem do Momento” (Man of the Moment - 1955), “Norman na Tropa” (The Square Peg - 1958), Pequeno Homem, Grande Homem” (There Was a Crooked Man - 1960), “Norman Marujo” (The Bulldog Breed - 1960), “Norman na Scotland Yard” (On the Beat - 1962), “Norman no Hospital” (A Stitch in Time - 1963), Norman Jornalista” (Press For Time - 1966), etc, etc. 
  
Teve um admirável papel dramático em Nova Iorque (1981) no palco, em “Going Gently”.
Consta na Filatelia britânica e tem uma estátua em Douglas (Ilha de Man).
E com toda a justiça, a Banda Desenhada não o esqueceu, especificamente no seu país. Mostramos abaixo alguns exemplos, muito embora e com tristeza, não saibamos com garantia, indicar qual é (ou quais são) o desenhista.
Naquele tempo, eram “ilustres desconhecidos”!!...
Carinhosamente e com saudade, o BDBD aqui o regista.
LB
"Radio Fun" #706 (19.04.1952)
"Radio Fun" #831 (11.09.1954)
"Film Fun" (15.10.1955)
"Film Fun" (04.08.1956)
Capa de "Radio Fun Annual" (1956)
"Radio Fun Christmas Number" (27.12.1958)
Estátua de Norman Wisdom, em Douglas na Ilha de Man 

domingo, 12 de março de 2017

LITERATURA E BD (10) - OSCAR WILDE

Oscar Wilde (1854-1900)
Há dois gigantes da Literatura da Irlanda que cilindram os mais atentos: Oscar Wilde e George Bernard Shaw. Implacavelmente sarcásticos, foram contemporâneos e viveram em Londres...
Pior ou melhor: detestavam-se pessoal e cordialmente, mas admiravam as obras de cada um. Achincalhavam constantemente, nos textos e nas piadas, os ingleses que, apalermados, até se riam e aplaudiam tais "espadeiradas". Coitadinhos dos ingleses!...
Ambos muito vaidosos, também davam as suas mútuas indirectas. Lembro-me de uma cena memorável de um filme (creio que foi em “O Julgamento de Oscar Wilde”), quando se assiste ao momento da estreia triunfal em Londres da peça de Wilde, “O Leque de Lady Windermere”... No final, Wilde desce uma escadaria, cercadíssimo de meninas tontas, e em baixo, no átrio, está Bernard Shaw. Este, alto e a bom som (e exibicionista), clama:
Senhor Wilde, gostei muito desta sua peça!”.
E Wilde respondeu:
- Também eu!
Oscar Wilde (aliás, Oscar Fingel O’Flahertie Wills Wilde) nasceu em Dublin a 16 de Outubro de 1854 e faleceu em Paris, doente, quase na miséria e abandonado, a 30 de Novembro de 1900.
Sincero, sabia-se talentoso, não fugindo no seu pedantismo peculiar, a aspectos como as fatiotas com que se exibia, quase sempre com um cravo verde na lapela... Classicamente muito culto, era homossexual, mesmo que tenha casado com Constance Lloyd, donde dois descendentes, o filho Cyril e a filha Vyvyan. O seu grande amor terá sido porém, o jovem aristocrata britânico (caprichoso, prepotente e parasita) Alfred Douglas, que o denunciou abertamente quando se sentiu “afastado”...
Mas este tão irónico como sofredor autor irlandês é digno de admiração pela sua obra, através da poesia, teatro, romance, ensaio, pensamentos. Exemplos soltos: “Fedra”, “A Duquesa de Pádua”, “O Príncipe Feliz”, “O Retrato de Dorian Gray”, “O Leque de Lady Windermere”, “Salomé”, “A Importância de Ser Leal”, “Uma Mulher Sem Importância”, “Rosa Mística”, “O Fantasma de Canterville”, “A Alma do Homem Sob o Socialismo”, “Balada do Cárcere de Reading”, “De Profundis”, etc.
Sofreu injúrias, o abandono e a prisão. Enfim libertado, foi viver para Paris (onde escreveu sob o pseudónimo de Sebastian Melmoth), onde faleceu vítima de um ataque violento de meningite.
Cartaz de "Wilde", com
Stephen Fry como protagonista
Até ao fim, sempre teve a seu lado, como fraterno amigo, Robert Ross.
Está sepultado no icónico cemitério parisiense Père Lachaise.
Adaptado ao Cinema por várias vezes, tanto biograficamente como por algumas obras suas, salientam-se dois filmes sobre a sua vida: “O Julgamento de Oscar Wilde” (realizado em 1960 por Ken Hughes e com tão aplaudível interpretação
de Peter Finch) e “Wilde” (realizado em 1997 por Brian Gilbert, com o actor Stephen Fry) .
Quanto à sua obra na Banda Desenhada, há um “universo” imenso, focando valorosos títulos como “O Retrato de Dorian Gray”, “Salomé”, “O Fantasma de Canterville” e o emocionante “O Príncipe Feliz”. Deste, há uma elegante adaptação feita pelo nosso Fernando Bento, que foi publicada no “Diabrete”, em 1949, do #595 ao #604.
 
"O Príncipe Feliz", por Fernando Bento, in "Diabrete" (1949)

E por este tema, salienta-se também o projecto inacabado por P.J.Holden / Malacky Coney...
"O Príncipe Feliz", uma adaptação livre de P.J. Holden (desenho) e Malacky Coney (texto), nunca terminada

 ...e a deslumbrante versão gráfica de P. Craig Russell.
"O Príncipe Feliz", adaptação e desenhos de Craig Russell,
in Colecção "Contos de Oscar Wilde" (tomo 5), Ed. NBM (2012)

Craig Russell que adaptou várias outras obras de Wilde, como por exemplo "O Gigante Egoísta"...
"O Gigante Egoísta", adaptação e desenhos de Craig Russell,
in Colecção "Contos de Oscar Wilde" (tomo 1), Ed. NBM (1992)

..."O Jovem Rei"...
"O Jovem Rei", adaptação e desenhos de Craig Russell,
in Colecção "Contos de Oscar Wilde" (tomo 2), Ed. NBM (1994)

..."O Aniversário da Infanta"...
"O Aniversário da Infanta", adaptação e desenhos de Craig Russell,
in Colecção "Contos de Oscar Wilde" (tomo 3), Ed. NBM (1998)

...ou "O Amigo Devotado", entre outros.
"O Amigo Devotado", adaptação e desenhos de Craig Russell,
in Colecção "Contos de Oscar Wilde" (tomo 4), Ed. NBM (2004)

O drama teatral “Salomé”, tão fabuloso como controverso, foi adaptado pelo turco Gürcan Gürsel...
Capa de "Salomé", por Gürcan Gürsel

...bem como por Tom Pomplun e Molly Kiely...
"Salomé", por Tom Pomplun (adaptação) e Molly Kielly (desenhos), in "Graphic Classics"

...e, também, por Craig Russell.
"Salomé", por P. Craig Russell, in Micro-Séries, Ed. Eclipse Comics

Quanto a “O Retrato de Dorian Gray”, existe uma versão adaptada por Alex Burrows com desenhos de Lisa K. Weber.
"O Retrato de Dorian Gray", por Alex Burrows (adaptação) e Lisa K. Weber (desenhos),
in "Graphic Classics"


Na revista "Thriller Comics Library" #148, o inglês Robert Forrest realizou uma bela adaptação deste romance.
"O Retrato de Dorian Gray", por Robert Forrest, in "Thriller Comics Library" #148 (1956)

As edições Marvel também dedicaram uma colecção, em seis volumes, a esta obra.
  
"O Retrato de Dorian Gray", por Roy Thomas (texto), Sebastian Fiumara (desenho) e Giulia Brusco (cor),
in Marvel Illustrated

"O Retrato de Dorian Gray" foi uma obra também inserida na colecção de novelas gráficas "Eye Séries", com texto de Edginton e desenho de Culbard.
"O Retrato de Dorian Gray", por Ian Edginton (texto) e Ian Culbard (desenhos),
Ed. SelfMadeHero (2008)

Há, também, uma versão de Stanislas Gros, sob edição Delcourt...
"O Retrato de Dorian Gray", por Stanislas Gros (adaptação e desenhos), Ed. Delcourt (2008)

Mas foram as Edições Diábolo que publicaram uma das melhores adaptações de "O Retrato de Dorian Gray", por Corominas.
"O Retrato de Dorian Gray", por Enrique Corominas (adaptação e desenho), Ed. Diábolo

Cabe aqui realçar, também, uma versão futurista e vagamente inspirada nesta obra, publicada na revista de terror "Creepy".
"Dorian Gray: 2001", por Alan Hewetson (texto) e Bill Barry (desenho),
in "Creepy" Vol. 9 (2011)

Já as Edições "Mosquito" (francesas, nada tendo a ver com o nosso famoso jornal infantil) lançaram uma colecção intitulada "Contos e Lendas", com arte do italiano Dino Battaglia (em parceria com a esposa, Laura, que deu a cor) onde foi incluída uma versão de "O Gigante Egoista".
"O Gigante Egoísta", por Dino Battaglia (adaptação e desenhos) e Laura Battaglia (cor),
1.º tomo da colecção "Contos e Lendas", Ed. "Mosquito" (França), 2006

Com argumento adaptado de Céka e desenhos de Cédric Pérez e Christelle Lardenois temos mais uma versão de "O Gigante Egoísta".
"O Gigante Egoísta", por Céka (adaptação) e Perez e Lardenois (desenhos),
Edições Petit à Petit (2010)

"O Fantasma de Canterville" foi parodiado por Antonella Caputo (texto) e Nick Miller (desenho), no número da colecção "Graphic Classics" dedicado a Oscar Wilde.
"O Fantasma de Canterville", por Antonella Caputo (texto) e Nick Miller (desenho), in Graphic Classics

Nesse mesmo número de "Graphic Classics", outra obra de Wilde foi parodiada por Rich Rainey e Stan Shaw: "Lord Arthur Savile's Crime".
"Lord Arthur Savile's Crime", por Rich Rainey (texto) e Stan Shaw (desenhos), in "Graphic Classics"

As Edições IDW lançaram "Welcome to Undeadwood", cujo argumento coloca Oscar Wilde contracenando com alguns personagens famosos do velho oeste como Calamity Jane e Wild Bill Hickok...
"Welcome to Undeadwood", por Lee, Collins e Kirchoff, in Revista "Doctor Who" #13

"O Aniversário da Infanta" foi também alvo de uma soberba adaptação pelo grande desenhador espanhol Leopoldo Sánchez.
"Un Monstruo en el Espejo", adaptação de "O Aniversário da Infanta", por Leopoldo Sànchez,
in "Comix Internacional" #3 Toutain Editor (1980)

Julian Peters adaptou, com um belo grafismo, o poema de Oscar Wilde, "Impression du Matin".
"Impression du Matin", adaptação e desenho de Julian Peters.

Do nosso colaborador Carlos Gonçalves, recebemos estas vinhetas, publicadas num jornal italiano, cujo autor das mesmas não conseguimos (ainda) descortinar...

Wilde foi, também, personagem de um projecto mangá, ainda que trabalhado por autores ocidentais, como por exemplo em "Oscar Wilde Conquista a América"...
"Oscar Wilde Conquista a América", por Robert Marland (texto) e Danica Brine (desenho)

Em duas pranchas, uma mini-biografia de Oscar Wilde, centrada à volta da publicação de "Salomé", da autoria de "NitrusOxide", pseudónimo de um autor norte-americano do qual desconhecemos mais dados, por agora.
Biografia de Oscar Wilde por "NItrusOxide"

"Bhoemians: a Graphic History" é um álbum colectivo onde Paul Buhle e David Berger se rodearam de um variado leque de banda desenhistas para percorrer o movimento boémio desde a sua origem, em meados do século XIX, até entrar no século XX. Oscar Wilde, como não poderia deixar de ser, também está referenciado...    
"Oscar Wilde in America", por Ellen Lindner, in "Bhoemians: A Graphic History"

Patrick Chambon realizou "Oscar Wilde FabulLeux", numa edição da francesa Hazan.
"Oscar Wilde FabulLeux", por Patrick Chambon, Ed. Hazan (França - 2016)

Para terminar este post que já vai longo, deixamos um cartune de Schulz, que encontrou forma de homenagear Oscar Wilde na sua ultra-famosa série "Peanuts".
Em “fim de festa”, transcrevem-se duas deliciosas alfinetadas de Wilde sobre os ingleses:
1 - “Em Inglaterra, o público dos jornais sente uma insaciável curiosidade em saber tudo, excepto aquilo que vale a pena saber”.
2 - “Londres está cheia de mulheres que confiam nos maridos. Reconhecem-se pelo seu aspecto infeliz”.

Nosso agradecimento ao apoio prestado por Carlos Gonçalves.
LB/CR