As personagens desta história nunca publicável, iam tomando vulto em cada almoço entre o Madeira Rodrigues, eu, o Dinis Machado e o Teixeira Abreu. Era nesses repastos que criávamos as figuras e o seu comportamento. Tonou-se num agradável passar do tempo e uma aposta constantemente renovada.
A seguir ao Lusibanco e à Lusidia, o Madeira Rodrigues e eu criámos o «Lusito», o militarão do grupo de «Lusis» que ia nascendo. Mais tarde o seu nome derivou para «Lusido», pelo motivo que contarei mais adiante.
Os detalhes iam sendo estudados. Por exemplo, os Lusitanos usavam as falcatas do lado direito, pois aos destros dava mais jeito para sacar logo da arma sem atravessar o braço para o lado contrário.Ainda sem argumento, estudava as figuras em variadas atitudes.
O Madeira Rodrigues ia desenvolvendo as características das novas personagens.
Depois foi a vez de dar «alma» ao Lusitanso, o que dava nome à história.
Em princípio pensámos ser careca, aproximando-se de uma personalidade em destaque na altura, década de 1960. Mas descobrimos que para os Lusitanos o cabelo era importante e quem o tinha perdido não era considerado na comunidade. Então acrescentei-lhe uma farta cabeleira, mas mantendo o ar humilde e simplório de «tanso».Aqui mostro um apontamento de como poderíamos desenvolver as aventuras com estas personagens. Podiam viajar no tempo sem se singirem à época dos Lusitanos.E por fim, a pérola no ramalhete: a Porca de Murça, figura que abunda em esculturas talhadas em granito pelo Norte do País, e que representa uma divindade a que os Lusitanos prestariam culto. Por isso esta figura veio fechar o grupo destes Lusitansos, e a Lusidia passou a ser a Sacerdotisa da Porca. As manchas que marcam o papel envelhecido são vestígios dos fundos das chávenas do café que tomávamos após o almoço.Pesquisámos e fomos ao pormenor de ver como os porcos são presos por uma perna, e como é feito esse nó, para haver uma veracidade no que fizéssemos.
Completo o grupo de personagens, o Madeira Rodrigues esboçou uma sinopse de uma aventura: os «nossos heróis» desciam dos Montes Hermínios até aos Algarves que, constava, ser uma terra promissora, de cultivos abundantes e águas temperadas.
Divertíamo-nos com esta criação impossível.
O tempo rolou, o Tintin português suspendeu a publicação, o Dinis Machado saiu da Bertrand, o Madeira Rodrigues abandonou a Íbis e foi trabalhar numa fábrica de massas alimentícias de um seu irmão, eu fui para a Europa-América e este «gozo» ficou fechado numa pasta que guardei. E passaram anos.
Foi quando…
No próximo artigo: o reacender da chama.
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