quarta-feira, 27 de julho de 2016

EVOCANDO (20)... CARLOS ROQUE

Carlos Roque (1936-2006)
Carlos Santos Roque nasceu em Lisboa, a 12 de Abril de 1936.
Como muitos outros autores portugueses da sua geração, estudou na Escola António Arroio, onde tirou o curso de Desenhador-Gravador-Litógrafo. 
Estreou-se na banda desenhada, em 1959 (tinha apenas 23 anos), na revista "Camarada" II série, com "O Cruzeiro do Caranguejo" (que quatro anos mais tarde, em 1963, seria reeditado em álbum).
Colaborou em "O Século", "O Século Ilustrado", "Modas e Bordados", "Vida Mundial"...
Emigrou para a Bélgica, em 1964, para fazer parte da equipa da revista Tintin, onde trabalhou no departamento de publicidade e publicou algumas curtas BD's, com textos de Yves Duval.
"Soyez Bons Pour les Animaux" ("Sejam Bons para os Bichinhos"), história com referências a Portugal, com argumento de Yves Duval, publicada na revista "Tintin" (belga) #8, em 1966. Repare-se, na última vinheta, nas caricaturas de Roque e Duval.

Em 1965, mudou-se para a concorrente Spirou onde, para além de colaborar com bandas desenhadas, chegou a maquetista e paginador da revista. Aí reeditou "O Cruzeiro do Caranguejo", em 1979.
Versão em francês de "O Cruzeiro do Caranguejo", publicada na revista "Spirou" belga

De parceria com a sua companheira, Monique (autora dos textos), Carlos Roque criou, nos anos 60, "Angelique", um "pequenino tornado", cuja personalidade é oposta ao nome que ostenta.
Os belgas Raoul Cauvin e Charles Jadoul também colaboraram com alguns argumentos para esta série.

"Angelique", maravilhosamente desenhada pela mão de Carlos Roque

Tal como "Angelique", o pato "Wladimyr" é também uma criação do casal Roque.
De início, Carlos não se mostrou muito entusiasmado com a ideia de Monique. Desenhar as aventuras de um pato (e de uma rã), num lago, prometia ser uma tarefa de pouco sucesso: o cenário tornar-se-ia, inevitavelmente, repetitivo e os assuntos talvez se esgotassem rapidamente. 
Contudo, à medida que ia trabalhando, Carlos começou a gostar do personagem e percebeu que este tinha potencial para desenvolver bastantes aventuras. A arte de Carlos e os argumentos de Monique (que, com o tempo, foram acrescentando personagens à série) fizeram o resto e "Wladimyr" tornou-se na mais querida criação do casal Roque, chegando, inclusive, a ganhar o prestigiado Prémio Saint-Michel, em 1976.
"Wladimyr" teve as suas aventuras publicadas em português, na revista "Selecções BD"
Quando, em 1999, surgiu no mercado português a revista "Selecções BD", dirigida por Jorge Magalhães, este, movido pela admiração e amizade que os unia, não perdeu tempo a convidar Carlos Roque para realizar alguns sumários da revista (que eram sempre apresentados em formato de meia-prancha) bem como a publicar "Wladimyr".
Em "Selecções BD", o "Western" serviu de tema para introduzir o sumário da revista.
Outro sumário da mesma revista, mas aqui o tema escolhido foi bem mais "ligeiro"...
Com o regresso a Portugal, nos anos 90, foi responsável pelo suplemento TV Guia Júnior, onde publicou passatempos e banda desenhada ("Tropelias do Malaquias", "Patrake", "Medo! em Vale de Cães"...)
 
"Tropelias do Malaquias", in suplemento "TV Guia Júnior"

Outra criação do casal Roque, "Patrake" (baptizado assim por Monique, mas que, inicialmente, estava para se chamar "Mandraço"!), é uma paródia/homenagem ao célebre mágico Mandrake.
As aventuras de "Patrake" são histórias, em oito vinhetas, onde o traço e a imaginação de Carlos comprovam o génio do artista.
Aventura de"Patrake" publicada no suplemento "TV Guia Júnior"

Em 2011, já depois do seu falecimento, foi alvo de uma homenagem durante o Salão Moura BD. Aí esteve patente uma exposição de belíssimos originais seus (que depois seguiram para a Amadora, para integrar o Festival daquela cidade). Monique, a sua companheira, recebeu, com emoção mas também com orgulho, o Troféu Balanito Especial, que o Moura BD outorgou postumamente a Carlos Roque.

Estranhamente, não existe, hoje em dia, nenhum álbum deste autor. "O Cruzeiro do Caranguejo", já foi publicado há mais de meio século! Parece mentira, atendendo à qualidade do trabalho de Carlos Roque e ao avultado número de histórias que desenhou... 

Carlos faleceu em Louvain (Bélgica), faz hoje precisamente dez anos! Com o seu desaparecimento, desapareceu também um dos maiores autores portugueses de banda desenhada de sempre. Saibamos honrar a sua memória e a sua obra.
CR

domingo, 24 de julho de 2016

A ILHA DO CORVO QUE VENCEU OS PIRATAS (6)


AS CASAS NO SÉCULO XVII NA ILHA DO CORVO

Na Ilha do Corvo as casas foram construídas com pedras da lava do vulcão e muitas subsistiram até aos nossos dias. Mas foram sofrendo alterações ao longo dos séculos.
Para reconstituir essas habitações à época em que decorre a história em quadrinhos, um dos simpáticos coordenadores científicos, João Saramago, foi incansável na recolha de documentação.
Quando estive na Ilha, conduzido pelo Eduardo Guimarães coordenador do Eco Museu, observei por fora e por dentro, casas muito antigas, algumas abandonadas e em ruína, no entanto já apetrechadas com chaminé e janelas, o que não acontecia há quatro séculos.
Podemos ver (à esquerda) a foto de uma habitação ainda existente em Ponta Delgada, com cobertura de colmo. Eram cobertas desta maneira todas as casa no Corvo em 1632.
A outra foto mostra a parede de uma habitação do Corvo (veja-se a diferença na pedra). Naturalmente que hoje são já cobertas com telha de barro.

Segundo descrições, tracei este esboço (ver figura em baixo) de como seria a casa comum. Telhado de duas águas ocupando um espaço rectangular, com um estrado na parte superior onde funcionavam os quartos de dormir cujo acesso se fazia internamente por uma escada. A parte da cozinha não era coberta pelo estrado para facilitar o escoamento dos fumos.

No mesmo cróqui fui esboçando a forma como seria o lar, que o João Saramago ia acompanhando e fornecendo novos dados.
Enviou-me uma foto que embora recente, mostra ainda a forma de um lar antigo, e outra onde se vê ao lado do lar a porta do forno, que se expandia normalmente para o exterior.


Por fim fiz este desenho que foi aprovado pelos consultores.

A partir daqui construí as imagens da narrativa gráfica, que junto.
Nas vinhetas já acabadas a tinta-da-china mostro a reconstituição da cozinha com o lar, vendo-se uma das personagens a descer dos quartos implantados no piso superior.

Noutra vinheta, pertencente a uma página mais adiante na história, pode ver-se melhor o lar. Sobre um banco está uma tigela de barro com «graxa» (gordura) do pássaro «Angelito», que por meio de um pavio funciona como lamparina.
O vidro não chegava à Ilha, não só por ser caro mas sobretudo devido à sua fragilidade. Pela força do vento que sempre assolou o Corvo não era possível abrir janelas nas paredes, por não haver possibilidade de lhes aplicarem uma proteção transparente que deixasse entrar a luz, e protegesse do frio. Por isso elas não existiam havendo apenas uma fresta no topo da empena, para que os fumos do lar saíssem.
Este pormenor chegou ao meu conhecimento depois de ter avançado com o «acabamento» da página 01, que como já expliquei, foi motivado pela necessidade de mostrar rapidamente à interessada população da Ilha qual o aspeto de uma prancha completa. Mas sempre foi provisória.
Por isso voltarei a modificar a primeira página onde incluí janelas nas casas, como a alterara já em relação ao aspeto da Ermida.
Os elementos históricos são uma matéria viva, sempre em atualização conforme as descobertas que se vão fazendo.
No próximo artigo os caros leitores deste BDBD Blogue irão tomar conhecimento das pesquisas efetuadas sobre que tipo de navios os piratas argelinos utilizavam na época para se fazerem ao Atlântico.

Um abraço
José Ruy
15 de julho de 2016

quinta-feira, 21 de julho de 2016

TALENTOS DA NOSSA EUROPA (10) - IGOR KORDEY (Croácia)

Igor Kordey (1957)
Nasceu em Zagreb (capital do seu país) a 1 de Janeiro de 1957 e é um dos mais valorosos desenhistas da Croácia.
Criou o seu estúdio na Croácia e nos finais dos anos 70, fez parte do Novi Akvadrat, um grupo de desenhistas croatas.
O mundo francófono desta Arte,  descobre-o cedo e “apanha-o” para a sua equipa, sendo editado o seu primeiro  álbum, “Les Misérables”, segundo o romance homónimo de Victor Hugo.
Capa e prancha de "Les Misérables"

Depois, pela editora Les Humanoïdes Associées, surge a série “La Saga de Vam” (em três tomos),com argumento de Vladimir Colin.
Série "La Saga de Vam" (1.º tomo): capa e primeira prancha

Quase a seguir, a Dargaud, convida-o para criar “Les Cinq Saisons/Automne”, com argumento de Nenad Django...

...e o segundo tomo de “Diasomante” (também pelos Humanoïdes Associés), este com argumento do “terrível” Alejandro Judorowsky.

Entretanto, Kordey, viaja para além Atlântico, primeiro apostando no Canadá, mas logo enceta a sua boa temporada com os editores norte-americanos Heavy Metal, Marvel, DC, Dark Horse, etc. Por aqui desenhou, por exemplo: “The Wall”, “Smoke” e séries/heróis, como Tarzan, Batman, X-Men, Black Widow, Soldier X, Star Trek, Catwoman, etc.
Depois, em consciência, regressa à sua Europa para imparáveis criações no belo panorama francófono da BD, integrado em especial nas edições Delcourt. Demarcam-se.
nesta fase, as séries “L’Histoire Secrète”, “Empire”...

...ou a adaptação maravilhosa do romance clássico, “Taras Boulba””, segundo Nicolau Gogol.
Igor Kordey é um desenhista fantástico e vigoroso no impacto do seu correcto traço que só merece plenos aplausos. Vamos conhecê-lo melhor? Talvez até em
português ... 
Haja Cultura e inteligência... ou preciso explicar melhor?...
LB

Capa e prancha de "Smoke", outra série desenhada por Kordey

terça-feira, 19 de julho de 2016

NOVIDADES EDITORIAIS (98)

SAUDADE - Edição Delcourt, na Colecção Shampooing dirgida por Lewis Trondheim. Autor: Fortu.
Fortu (aliás, José Fortuna) é frânces, tendo nascido em Samur, a 1 de Janeiro de 1975. É porém, filho de pais portugueses. Apresenta-nos agora, num elegante preto-e-branco, uma série de breves narrativas que, no conjunto, têm o nome de "Saudade".
E o álbum apresenta-se assim: "Saudade é uma palavra portuguesa que exprime uma melancolia marcada pela nostalgia. A saudade evoca um desejo intenso por qualquer coisa que nunca virá, que poderia ter sido ou que se amou e se perdeu, mas que poderá voltar num futuro incerto".
Aqui se registam, com plena beleza, cinzentos e quase silenciosos gritos de alma, consequência de vivências do autor ou de várias observações suas pelo mundo onde se insere. É o fado que tantas e tantas vezes chora a saudade...
Parabéns, Fortu!



LA POUSSIÈRE DU PLOMB - Edição Delcourt. Argumento de Henri Labbé e Dominique Heinry e arte gráfica de Alexis Robin.
“La Poussière du Plomb” é um álbum com 210 pranchas, com base em factos verídicos, envolvendo vários jovens, dos 17 aos 25 anos, que residem em Roma. Uma  Roma, capital de um país que mal acabou de se desfascizar e onde a Direita se radicaliza e onde a Democracia Cristã e o Partido Comunista Italiano pensam já num “compromisso histórico”...
Traições, desilusões, prisões... Tais jovens verão e sentirão os seus destinos a oscilar dramaticamente. Os ideais são sempre muito bonitos, mas raríssimas vezes se conjugam com a realidade das situações...
“La Poussière du Plomb” é uma obra-BD a cuja leitura vivamente aconselhamos.



LE CRAIRVOYANT - Edição Soleil. Argumento de Antoine Tracqui, traço de Lucio Leoni e Emanuela Negrini, e cores de Cyril Saint-Blancat.
Os homens estão condenados a ser os brinquedos dos deuses? E o destino dos deuses não será bem semelhante ao dos homens, vindo também a morrer para serem substituídos por outros?
Em “Le Clairvoyant”, sétimo tomo da série “Oracle”, mantem-se uma espantosa viagem pela antiguidade grega, no desafio de bizarras e caprichosas guerrilhas entre deuses e homens.
O velho e famoso poeta cego Homero, é um dos principais personagens. Mas também, entre outros, os deuses Zeus, Hera e Ares... O tomo termina com uma espectacular imagem do doloroso sacrifício de Prometeu.
LB

sexta-feira, 15 de julho de 2016

HERÓIS INESQUECÍVEIS (41) - CAPITAN

Este herói espadachim, “contemporâneo” de D'Artagnan, foi criado em Setembro de 1963 na revista “Tintin” (edição belga) pelo casal Fred (1927-2013) e Liliane Funcken (1927-2015). Yves Duval também colaborou no argumento de alguns episódios.
Liliane e Fred Funcken
Capitan De Castaignacquase sempre acompanhado pelo seu fiel e corajoso servidor Larossevem a tornar-se num agente secreto do Cardeal Richelieu, então primeiro-ministro de França.
A série, editada pela Lombard (sete primeiros tomos) e pela Bedescope (os últimos dois), compõe-se de nove álbuns, dos quais não há um único editado em português.
No entanto, cinco aventuras de Capitan foram publicadas em revistas nossas: três nas “Selecções do Mundo de Aventuras” (n.ºs 192, 200 e 221), uma no “Mundo de Aventuras (II fase) n.º 261, e a outra, em 1973, na edição portuguesa da revista “Tintin”.
Prancha de "Em Guarda, Capitão!", in "Selecções do Mundo de Aventuras" #192
Prancha de "Em Guarda, Capitão!", in "Selecções do Mundo de Aventuras" #192
Prancha de "Capitão e os Conspiradores", in "Selecções do Mundo de Aventuras" #200
Prancha de "O Homem da Máscara de Couro", in "Selecções do Mundo de Aventuras" #221
Por esta bela série se regista, como sempre, o rigor na arte gráfica de Liliane e Fred Funcken, onde se demarcam belos e entusiasmantes momentos dignos das histórias de capa-e-espada.
O valoroso De Castaignac, havia deixado a sua natal Gasconha, rumo a Paris, onde contava fazer fortuna... É na capital de França que vem a conhecer D’Artagnan, que o apresenta e apadrinha ao temível e astuto Richelieu, que acaba por nomeá-lo como um dos seus agentes secretos.
Repetimos: pela série, não falham cativantes aventuras cheias de acção e com muita espadeirada pelo meio!
En garde, bedéfilos!
LB

Prancha de "Capitan et le Masque de Cuir" (em português, "O Homem da Máscara de Couro",
publicado nas "Selecções do Mundo de Aventuras" #221)
Prancha de "Capitan et l' Agent Secret" (inédito em Portugal)